Isso aqui ainda há -de ser uma cidade |
TOCAIA NOVA
(Jorge Amado)
Episódio Nº 210
Sorriu e lhe acenou com a mão.
O povo já batizara a colina, dera-lhe o
nome de Outeiro do Capitão, pois, lá de cima, como se estivesse num mirante, o
Capitão podia descortinar o povoado inteiro, da Baixa dos Sapos com as
choupanas das putas e a casinhola de Bernarda até a rua de casas se estendendo
no Caminho dos Burros; do descampado com o local da feira, o galpão de palha,
pouso dos tropeiros e salão baile até o depósito de cacau e o curral do coronel
Robustiano, a oficina de Tição onde Edu, o filho mais velho, aprendia o ofício,
e o armazém do turco nas proximidades da jaqueira.
Avistava também no outro lado do rio as
plantações dos sergipanos e dos sertanejos, os roçados e as ramadas, os pendões
do milharal, os porcos, as galinhas.
Tudo aqui lo
e o movimento dos passantes o capitão Natário da Fonseca abarcava com a vista
da varanda de sua residência.
Melhor ainda do pé de mulungu, alguns
passos mais à frente, onde mostrara certa feita o lugar então deserto ao
coronel Boaventura Andrade e vaticinara como seria no futuro: isso aqui ainda há de ser uma cidade.
Pouco faltava, concordara o Coronel ao
passar por lá, sete anos depois. Modo de falar do Coronel: povoado pequeno,
para ser uma cidade faltava-lhe quase tudo.
Mas quando ele, Natário, chegara
rapazola à fartura do cacau fugindo da indigência de Sergipe, Taquaras não
passava de reduzido ponto de pernoite, a estação não existia, não havia ainda o
trem de ferro, e a cidade de Itabuna, esse colosso, era o arraial de Tabocas.
Por esse motivo o Capitão mantinha-se
atento ao que circulava e acontecia, opinando e se envolvendo se preciso.
Emprestara numerário para a construção
da casa de farinha que Lupiscínio e Bastião da Rosa estavam pondo de pé
por conta de Ambrósio e José dos Santos e se juntara ao coronel Robustiano
Araújo para financiar o corte da madeira para o projectado pontilhão.
Nessas obras pusera quase todo o lucro
da colheita mas quem conqui sta mando
e autoridade, contrai obrigações. Assim pensava e agia desde muito antes de
colher cacau, apenas começara a plantar roças nas matas da Boa Vista e deparara
com Bernarda refugiada ali, fazendo a vida.
8
Não acontecera de chofre, de improviso:
ao contrário de Bastião da Rosa que levara séculos sem
vê-la; constantemente o negro a via e lhe falava, e se não se dera conta
cabia-lhe a culpa, a mais ninguém.
Esteve em assíduo contacto com Diva a partir
do fim da tarde em que acompanhara a família sergipana ao armazém de Fadul e
lhe emprestara a rede na palhoça de Epifânia: a menina Diva, entanguida e
aluada.
Até o momento em que a viu grimpando morro acima, equi librando na cabeça uma cesta repleta de chuchus, qui abos, maxixes e jilós, batatas-doces, produtos
dos roçados, agrados que Vanjé mandava para a cozinha
de Zilda.
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