José Mujica saindo do seu "carocha" de 1987. |
José Mujica
Despediu-se do cargo de Presidente do Uruguai o velho guerrilheiro
que chegou a Presidente, o mais popular do mundo, comprovando, também ele, que
as questões de carácter são as mais importantes para definir o responsável
político de um país.
Na política portuguesa onde estes exemplos hoje não existem, o
último foi o General Ramalho Eanes, condenam-se até estes julgamentos morais
como não sendo próprios para avaliar políticos.
Mujica foi um velho guerrilheiro e quando chegou a Presidente
abdicou dos luxos da residência oficial e continuou a viver na sua simples casa
com tecto de zinco.
Nós tivemos também Teófilo de Braga que igualmente recusou honras
e ostentações deslocando-se, de manhã para a presidência de eléctrico com o
guarda-chuva no braço e a bengala já sem ponteira.
Como é que Muchica, sendo o que foi, conseguiu chegar a Presidente
e manter-se como recordista de popularidade não só no seu país mas no mundo?
- Mérito dos cidadãos do Uruguai que o elegeram porque não podemos
condenar os eleitores quando põem no poder facínoras e doentes mentais como
Hitler ou sonsos, hipócritas e provincianos, como Cavaco Silva e não elogiar
quando fazem escolhas certeiras e arrojadas.
Da América Latina vêm os piores exemplos de demagogos e tiranetes
mas também vem Mujica que nos surpreende e faz sorrir pela grande qualidade da
sua personalidade que se reafirma com o poder em vez de se ofuscar como tantas
vezes acontece.
...”São tão bons até irem para lá e depois com o poder
estragam-se...” diz o povo.
São poucos na história do mundo os homens que se impuseram pela
qualidade do seu ser quando chegaram ao poder.
-
Tivemos Gandi, na Índia, que quase se deixou morrer para que o seu povo se
respeitasse a si próprio face ao domínio inglês e não se entregasse a uma luta
fratricida por motivos religiosos;
-
Mandela, na África do Sul, que conseguiu, apenas pelo seu exemplo, o que
parecia impossível unindo um povo de brancos e negros separados até ao fundo da
sua alma pela política do apartheid;
- E na
América do Sul, José Mujica que quando chegou ao poder levava 15 anos de prisão
por pertencer ao Movimento de Libertação Nacional Tapamaro, 6 feridas de bala e
2 fugas e 4 dias depois de sair daquele inferno fez um discurso sem vestígios
de ressentimentos.
No entanto, tinha sofrido toda a espécie de
torturas, desde eléctricas às psicológicas, passando pela fome, espancamentos,
suportando frio extremo e calor abrasador. Falou com ratos e rãs e disputou o
resto da comida dos cães.
Detido em 1972, voltaria a ver a luz do dia em
1985 quando o país recuperou a democracia. Entrou aos 37 anos, saiu aos 50,
perdeu a juventude mas não os ideais.
Doa 87% do seu salário de 12000 US$ de
Presidente o que correspondeu, em 5 anos, a 600.000 dólares que lhe teriam dado
para comprar uma casa nova e trocar o seu velho carocha de 1987.
- Que inveja quando nos lembramos dos nossos
políticos de pacotilha...
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