Mujica na sua chácara. |
Ainda Mujica
Afinal, o que é que um homem da craveira moral e ética de Mujica
ou de Mandela acrescentam à arte de governar, de encontrar soluções sábias se
eles não souberem de economia, de finanças, urbanismo, ambiente... de que
servem as qualidades de natureza moral ou ética?
Poder-se-á pensar se ele não tiver a perspicácia e a argúcia de antecipar cenários e
adiantar soluções para o país de que servem as qualidades morais e éticas?
Governar um país é a missão mais difícil a que alguém se pode
atribuir e com o advento e implantação da democracia, o nascimento dos grandes
espaços políticos, a preponderância dos interesses financeiros sobre os económicos
e sociais ainda tudo mais se dificultou.
A democratização do ensino equi librou
a sociedade. Todos hoje aprendemos o suficiente nos vários ramos do
conhecimento para podermos discutir, apoiar ou discordar as decisões dos
governantes.
Mais difícil ainda se nos lembramos que vivemos num mundo
materialista em que o importante é o “ter” e não o “ser”. Num mundo em que não
regateamos esforços e sacrifícios para termos mais coisas à nossa volta, numa sociedade
de consumo descarado, mas descoramos e desprezamos o tempo que é necessário
para amar as pessoas que estão à nossa volta já que as outras nem sequer
reparamos nelas.
Especialistas em economia, finanças, relações internacionais e por
aí fora existem muitos. Todos os dias saem das Universidades carregados de
pontuações, admirados e invejados por mestres e colegas, disputados pelas
empresas no mercado de trabalho.
O que nos falta, então, verdadeiramente, são Mujicas e Mandelas,
que nos façam acreditar de que vale a pena ter esperança no futuro e em nós próprios.
Cada vez mais o que precisamos é de valores e de causas, de faróis,
de luzes, de exemplos em seguir e em quem confiar.
Só pessoas como Mujica e Mandela conseguem ter esse poder de sedução
que os faz brilhar mais do que os outros e a nós nos permitem, à noite, dormir
mais descansados.
Num país da América Latina, tradicionalmente religioso, católico,
conservador, Mujica liberalizou a marijuana e legalizou o aborto e o casamento
homossexual, rompendo com preconceitos e indo ao encontro do íntimo das pessoas
conferindo-lhes a liberdade de decidirem das suas vidas, dos seus corpos, de si próprias,
respeitando-se num campo em que elas não eram senhoras de si mesmas.
Só a força de um homem de carácter excepcional com provas dadas em
uma vida, desprendido total e comprovadamente das coisas materiais, preocupado
apenas com os valores da justiça social, é capaz de tomar estas decisões e ser
admirado e respeitado exactamente porque as tomou.
A Mujica nunca lhe passou pela cabeça ser Presidente do Uruguai
mas as mudanças sociais que ele seria capaz de operar nessas funções nunca saíram
das suas preocupações.
A presidência foi apenas mais um acto de militância
social como outros que o levaram à prisão e à tortura.
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