quarta-feira, março 25, 2015

O Entrevistado
A Entrevista
















A sua candidatura a Presidente da República é anunciada num dia e no seguinte surge a entrevista, publicada no Diário de Notícias, que lhe é feita pela jornalista, afecta ao PS, Silvina Fresh.

Henrique Neto não é um candidato qualquer. Com quase 80 anos de vida o seu passado é inteiramente conhecido e notório porque a sua voz discordante sempre se fez ouvir inclusive por se apresentar sempre nos Congressos do Partido Socialista com moções controversas.

Começou a vida por baixo, a sua família sempre esteve ligada à indústria vidreira e foi co-fundador da empresa Iberomoldes, uma das mais importantes do mundo em  produtos de moldes de plástico.

Entrou na política e foi parlamentar do PS entre 1990/95 mas a sua voz foi sempre crítica, não alinhada. Para isso ele dá uma explicação que eu compreendo perfeitamente e partilho.

Quando vejo um jogo de futebol em que entra o meu Sporting estou sempre mais atento aos erros da minha equipa do que aos do adversário.

Como ele diz: “Devemos ser mais exigentes com os nossos filhos do que com os filhos dos outros”.

Esta frase dita por um político significa que dificilmente ele poderia ter futuro dentro do PS onde, como em qualquer outro grande partido político, a “regra omissa” é esconder estrategicamente os nossos erros e apontar os erros dos outros.

Henrique Neto pretendeu ser uma espécie de “regenerador” da vida interna do partido mas não resistiu à disciplina imposta pela defesa dos interesses do grupo que devendo ser, naturalmente, de natureza política, essência dos partidos, passam a ser a breve trecho, de carácter pessoal, de um grupo de pessoas que unem esforços, em grande parte, para se manterem no poder e desfrutar das benesses e prestígio que ele oferece.

A luta para se conseguir alcançar o topo da vida empresarial é muito mais solitária e competitiva em que as alianças não são propriamente compadrios. A competitividade entre as empresas é feroz, muitas vezes de vida para umas e de morte para outras e a vitória e o sucesso quantas vezes efémero e fugaz.

Não foi o caso da Ibermoldes construída e assente em bases sólidas e duradoiras por Henrique Neto.

Ele explica porque divergiu logo de Mário Soares quando ele chegou do exílio. Neto pretendia uma união de forças de esquerda e Soares foi fazer um partido só para ele, o Socialista.

Mais tarde, afastou-se dos “foguetes” da nossa entrada no Euro porque em vez de festejarmos deveríamos estar de dentes cerrados numa união de esforços numa ligação ao mundo a que historicamente sempre pertencemos.

Estes dois casos dizem muito sobre o carácter de Henrique Neto que explicam por um lado, o seu sucesso na vida empresarial e os reveses na vida político-partidária, pelo o outro.

O projecto político ligado ao euro está em curso, até à data com muitas razões de queixa, mas o processo não está encerrado.

Em política, as escolhas são sempre as mais difíceis a tal ponto que só podem ser julgadas devidamente pela história mas uma coisa tem de ser dita em abono da verdade, relativamente à construção da Comunidade Europeia servida pelo euro: ele pretendia servir o objectivo da paz entre países historicamente sempre em conflitos terríveis uns com os outros.

Esta finalidade é mais que louvável e ninguém, de boa fé, lhe pode negar o mérito. Se não o vier a conseguir por questões de instabilidade social provocada pelo egoísmo e falta de visão política dos países mais importantes que determinam os destinos da Europa, os europeus terão perdido uma oportunidade que dificilmente se voltará a repetir.

Gosto da personalidade frontal e honesta de Henrique Neto muito pouco comum aos homens e mulheres da classe política partidária portuguesa e tão pouco por eles apreciadas como se percebe pelas reacções à sua candidatura.

Faz-me lembrar um pouco, por analogia, o salmão que luta contra a corrente para poder chegar ao seu destino. Alguns conseguem-no, outros são apanhados pelos ursos que os esperam esfomeados nas margens do rio. Henrique Neto não lhes vai escapar...  

Site Meter