O infante chegou na barra da manhã. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 187
Dava pressa a Dinorá e a Diva que
esquentavam a água:
- Vamos com isso. Botem mais lenha no
fogo.
Na peça vizinha, o menino acordou
chorando, chamava pela mãe, Dinorá qui s
atender, Coroca não deixou:
- O pai que veja. Vancê tá ocupada.
-Assunte ele aí, Jãozé. Olhe o que ele
tem.
João José informou:
- Tá cagado.
- Pois alimpe vosmicê - Atalhou Coroca antes que Dinorá largasse a
panela sobre a trempe de pedras para cuidar do filho.
Despejaram a água fervendo na bacia de
flandre comprada a crédito no armazém do turco como quase todos os demais
pertences. Ajudaram Lia a levantar-se do catre e a
acomodar-se na bacia, a saia arregaçada até ao meio do bucho:
- Ai, não agüento! Tá me queimando as
carnes.
- Quanto mais quente, melhor.
Vanjé e Dinorá sustentavam-na pelos
braços, Coroca mantinha- lhe as pernas abertas para que o calor penetrasse corpo
adentro.
No bafo da quentura o ventre
dilatava-se, recrudesciam as dores, as contrações amiudavam-se uma atrás da
outra. Lia ora gemia, ora gritava: Agnaldo espiava da porta, agoniado.
Diva roía as unhas, inqui eta. Quando a água começou a esfriar, levaram Lia
de volta para o catre.
6
Reunidas em torno do catre, no agravo
dos gemidos, durante o passar da noite, as mulheres aguardaram a vida
acontecer.
O infante chegou na barra da manhã, os
homens já haviam partido para o trabalho: começavam a cavoucar a terra ainda com
o escuro.
Dispensada por Coroca, Diva os
acompanhou carregando a mochila onde levava o de-comer: charque, farinha,
rapadura; uma penca de bananas. Agnaldo foi a pulso, Coroca não permitiu que ele
ficasse:
- Pai só faz atrapalhar.
Atenta, percebeu quando, no correr de
uma contração mais
forte, puxo tão violento a ponto de
silenciar Lia em meio a um grito, o pequenino crânio coberto de lanugem negra
surgiu na dilatada vulva e ali permaneceu parado.
-
Tá nascendo - Constatou Coroa num murmúrio.
-
Entalou. Ai, meu Deus! - Alarmada, Dinorá torcia as mãos.
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