segunda-feira, março 02, 2015

O infante chegou na barra da manhã.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)


Episódio Nº 187



















Dava pressa a Dinorá e a Diva que esquentavam a água:

- Vamos com isso. Botem mais lenha no fogo.

Na peça vizinha, o menino acordou chorando, chamava pela mãe, Dinorá quis atender, Coroca não deixou:

- O pai que veja. Vancê tá ocupada.

-Assunte ele aí, Jãozé. Olhe o que ele tem.

João José informou:

- Tá cagado.

- Pois alimpe vosmicê -  Atalhou Coroca antes que Dinorá largasse a panela sobre a trempe de pedras para cuidar do filho.

Despejaram a água fervendo na bacia de flandre comprada a crédito no armazém do turco como quase todos os demais pertences. Ajudaram Lia a levantar-se do catre e a acomodar-se na bacia, a saia arregaçada até ao meio do bucho:

- Ai, não agüento! Tá me queimando as carnes.

- Quanto mais quente, melhor.

Vanjé e Dinorá sustentavam-na pelos braços, Coroca mantinha- lhe as pernas abertas para que o calor penetrasse corpo adentro.

No bafo da quentura o ventre dilatava-se, recrudesciam as dores, as contrações amiudavam-se uma atrás da outra. Lia ora gemia, ora gritava: Agnaldo espiava da porta, agoniado.

Diva roía as unhas, inquieta. Quando a água começou a esfriar, levaram Lia de volta para o catre.

6

Reunidas em torno do catre, no agravo dos gemidos, durante o passar da noite, as mulheres aguardaram a vida acontecer.

O infante chegou na barra da manhã, os homens já haviam partido para o trabalho: começavam a cavoucar a terra ainda com o escuro.

Dispensada por Coroca, Diva os acompanhou carregando a mochila onde levava o de-comer: charque, farinha, rapadura; uma penca de bananas. Agnaldo foi a pulso, Coroca não permitiu que ele ficasse:

- Pai só faz atrapalhar.

Atenta, percebeu quando, no correr de uma contração mais
forte, puxo tão violento a ponto de silenciar Lia em meio a um grito, o pequenino crânio coberto de lanugem negra surgiu na dilatada vulva e ali permaneceu parado.

 - Tá nascendo - Constatou Coroa num murmúrio.

 - Entalou. Ai, meu Deus! - Alarmada, Dinorá torcia as mãos.

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