terça-feira, abril 07, 2015

Mulher igual a tu, não há. Nem vai haver.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 217














11


Zezinha do Butiá levantou-se ao mesmo tempo que Fadul
Abdala quando os relinchos e os zurros começaram a acordar o vale e os tropeiros foram reunir os comboios.

 Noite de sonhar, não de dormir, noite de risos e suspiros, de ais dolentes, de uivos abafados, de palavras boas de dizer e de ouvir.

Fadul lhe propôs ficar dormindo; já de pé, ela recusou:

- Vou lhe ajudar.

Considerou o tamanho do leito, grandioso, uma ponta de reproche na voz cantada:

- Foi aqui que tu  enfiou a rola em Jussa, não foi? A tarde inteira... Puta descarada!

Passado tanto tempo, ela ainda se lembrava com mágoa e com rancor. O turco tocou-lhe o corpo nu, com a mão enorme:

- Mulher igual a tu, não há. E não vai haver.

Zezinha tirava vestidos do baú, escolhia o que usar. Para servir cachaça no balcão àquela hora da manhã, vestia-se de festa.

Preparara-se como se fosse viajar para Ilhéus e não para aquele cu-de-judas. Quando o movimento cessou, após o banho no rio, a carneseca chamuscada e a madura graviola, saíram a andar pelo lugarejo.

As raparigas espiavam das entradas das choupanas, saudavam galhofeiras. Coroca gracejou ao passar por eles na Baixa dos Sapos:

- Se amigou, seu Fadu? Lhe dou os parabéns, soube escolher.

- Voltou-se para a visitante: — Ocê é Zezinha, não é? Eu sou Jacinta, quando seu Fadu viaja pra lhe ver, sou eu que fica aqui tomando conta do cacete armado.

- Vim só pra me despedir, tou de partida pra Sergipe.

Fadul me fala sempre em vosmicê, disse que vosmicê vale por dez homens.

- Bondade dele.

Percorreram Tocaia Grande de ponta a ponta, ela ficou conhecendo o velho Gerino, Merência e Lupiscínio, Castor já conhecia: não só de vista e de conversa, também do mais.

 De volta ao balcão da venda, Zezinha resumiu sua opinião:

- Tão pobre como Butiá, o lugar onde nasci. Só que Butiá em vez de andar pra frente, anda pra trás que nem rabo de cavalo.

Se eu pudesse, ficava aqui, junto com tu.

Na manhã seguinte, após a noite em claro, Fadul despachou os tropeiros com Zézinha de caixeira, entre risos e chalaças.

Quando o último comboio ganhou a estrada, o turco entregou a chave da casa e o revólver a Coroca, botou as cangalhas nos dois burros e acompanhou a rapariga ao trem de ferro na estação de Taquaras.

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