quarta-feira, abril 01, 2015

O pedreiro levava-lhe nítida vantagem
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)



Episódio Nº 212

















Sozinha, para vir espioná-lo nas imediações da oficina. Não a viu botar corpo e se fazer mulher. Somente percebeu a transformação e dela teve plena consciência ao divisá-la subindo a trilha para a casa do capitão Natário.

Levou um choque, sentiu disparar o coração. Decidiu ficar à espera para confirmar o milagre. Diva o enxergou certamente, ali estatelado, mas fez como se não o houvesse visto, não olhou para ele nem diminuiu o passo. Parou sem embargo mais adiante, virou a cabeça para trás e riu como se estivesse mofando dele.

 Entenda quem quiser!

Não conseguia decifrar a causa e o objectivo, a razão de ser do insensato comportamento adoptado por ela: as risadas e os olhos baixos, os disfarces e as fugas, os remoques e as esquivanças, as ousadias e o retraimento. A figura se modificara mas os modos subsistiam inalterados, absurdos.

Castor quebrava a cabeça, sem encontrar os noves-fora da charada. Não fossem bobagens, patetices de menina, pareceriam indirectas, verde para colher maduro, arteirices de mulher, frete de puta.

Desde que a viu voltar a cabeça para olhar e rir, desde então já não teve outro pensamento nem brotou em seu peito outro desejo: sem Diva a vida não valia a pena, não era vida.

Desesperançou-se porém quando percebeu - e foi fácil perceber – que também Bastião da Rosa a requestava. Barba e bigodes loiros, cabeleira farta e ondulada, cara vermelha de gringo: de gringo das europas e não de turco escuro, quase tão escuro quanto qualquer mestiço grapiúna - o pedreiro levava-lhe nítida vantagem.

Não sendo ela francesa e sim morena sergipana, haveria de preferir o branco de olho azul ao pau-de-fumo. Somente as francesas, como ele sabia e tinha provas, dão o devido valor à raça negra.

Nem por isso desistiu: resignar-se, fugir à luta não era de sua natureza, ainda menos naquela circunstância quando o prémio da porfia era a própria vida.

9

Vendo Durvalino tirar água da cacimba para os gastos da cozinha, Fadul recordou-se com saudade de Zezinha do Butiá e suspirou: tanto o poço quanto o caixeiro traziam-lhe de volta a rapariga.

Estava satisfeito: a cacimba era de grande utilidade e Durvalino ultrapassara um ano de serviço no balcão do armazém, mostrara-se de muita serventia. E honesto, por mais incrível que pareça.

Zezinha não ostentava peitos fartos nem cadeiras largas, conhecidas preferências do turco em matéria de mulher – mamas grandes, bunda de tanajura, boas de agarrar com as mãos - mas a nenhuma outra se apegara tanto.

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