O pedreiro levava-lhe nítida vantagem |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio
Nº 212
Sozinha, para vir espioná-lo nas
imediações da oficina. Não a viu botar corpo e se fazer mulher. Somente
percebeu a transformação e dela teve plena consciência ao divisá-la subindo a
trilha para a casa do capitão Natário.
Levou um choque, sentiu disparar o
coração. Decidiu ficar à espera para confirmar o milagre. Diva o enxergou certamente,
ali estatelado, mas fez como se não o houvesse visto, não olhou para ele nem
diminuiu o passo. Parou sem embargo mais adiante, virou a cabeça para trás e
riu como se estivesse mofando dele.
Entenda quem qui ser!
Não conseguia decifrar a causa e o
objectivo, a razão de ser do insensato comportamento adoptado por ela: as risadas
e os olhos baixos, os disfarces e as fugas, os remoques e as esqui vanças, as ousadias e o retraimento. A figura se
modificara mas os modos subsistiam inalterados, absurdos.
Castor quebrava a cabeça, sem encontrar
os noves-fora da charada. Não fossem bobagens, patetices de menina, pareceriam
indirectas, verde para colher maduro, arteirices de mulher, frete de puta.
Desde que a viu voltar a cabeça para
olhar e rir, desde então já não teve outro pensamento nem brotou em seu peito
outro desejo: sem Diva a vida não valia a pena, não era vida.
Desesperançou-se porém quando percebeu -
e foi fácil perceber – que também Bastião da Rosa a requestava. Barba e bigodes
loiros, cabeleira farta e ondulada, cara vermelha de gringo: de gringo das
europas e não de turco escuro, quase tão escuro quanto qualquer mestiço
grapiúna - o pedreiro levava-lhe nítida vantagem.
Não sendo ela francesa e sim morena
sergipana, haveria de preferir o branco de olho azul ao pau-de-fumo. Somente as
francesas, como ele sabia e tinha provas, dão o devido valor à raça negra.
Nem por isso desistiu: resignar-se,
fugir à luta não era de sua natureza, ainda menos naquela circunstância quando
o prémio da porfia era a própria vida.
9
Vendo Durvalino tirar água da cacimba
para os gastos da cozinha, Fadul recordou-se com saudade de Zezinha do Butiá e suspirou:
tanto o poço quanto o caixeiro traziam-lhe de volta a rapariga.
Estava satisfeito: a cacimba era de
grande utilidade e Durvalino ultrapassara um ano de serviço no balcão do
armazém, mostrara-se de muita serventia. E honesto, por mais incrível que pareça.
Zezinha não ostentava peitos fartos nem
cadeiras largas, conhecidas preferências do turco em matéria de mulher – mamas grandes,
bunda de tanajura, boas de agarrar com as mãos - mas a nenhuma outra se apegara
tanto.
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