Cito Manoel de Oliveira, cineasta, recentemente falecido com 106
anos, para dizer esta frase tão simples e óbvia como tocante de humildade e de
verdade:
- “ Em casa falta-me espaço e na vida falta-me tempo” e eu acrescento: - Se calhar Deus é o tempo”.
É verdade, se tivesse que indicar uma qualquer entidade que correspondesse ao conceito de Deus, no seu significado de criador da vida, essa entidade, para mim, só poderia ser o Tempo porque, de facto, foi ele que a gerou.
Richard Dawkins, relativamente à
origem da vida diz-nos como ela se terá iniciado na Terra, numa versão idêntica
à de todos os cientistas nesta área, a partir de uma molécula que tinha uma
propriedade extraordinária de fazer cópias de si mesma e que surgiu dentro do
mesmo grau de probabilidade que eu tenho de ganhar o jackpot do euromilhões.
Mas o Planeta Terra esperou, esperou,
tempo era aqui lo que não lhe
faltava, e por isso aguardou dezenas de milhões de anos até que um dia, por
fim, naquele “caldo primitivo” que eram os mares dessa altura, ao lado das
restantes moléculas que já por lá se encontravam a boiar surgiu, por acidente,
uma diferente de todas as outras que fazia cópias de si própria e que, por isso, se revelaria a verdadeira chave da vida e
foi o Tempo, o mesmo que nos falta a nós e faltou ao Manoel de Oliveira, para
além de espaço na casa, que permitiu que isso acontecesse.
E como seria muito mais rico o
património da humanidade se a alguns, pelo menos a alguns, tivesse sobrado mais
algum tempo de vida…mas parece que entre nós só o Planeta Terra tem o exclusivo
do Tempo.
Portanto, tem toda a lógica
afirmar-se ter sido o Tempo que gerou a vida e continuou a ser o Tempo que a
fez e fará evoluir até sempre... até ao fim do universo pois, sabe-se já ou
pelo menos presume-se, que ele é finito num processo de expansão irreversível
que o levará à morte mas até lá o tempo ainda tem uma grande tarefa á sua
frente.
Uns dizem: “Só Deus o sabe...” Eu prefiro dizer: “Só o Tempo o
sabe...”.
No entanto, hoje sabe-se muito, muito mais do que se sabia
quando há 20 anos se colocou em órbita o telescópio Hubble e basta ouvir o
cientista Neil de Grasse Tyson, nas várias comunicações que temos aqui passado no Memórias Futuras, para nos admirarmos
com todo esse conhecimento grande parte dele de difícil entendimento para nós,
comuns mortais.
É possível recuar no Tempo percorrendo em sentido inverso o
caminho que a luz andou até chegar aqui ,
ao nosso planeta Terra, do Sistema Solar da nossa Galáxia, este ponto azul,
como lhe chamou Carl Sagan.
Treze mil e qui nhentos
milhões de anos à velocidade da luz a 300.000 km/s, qualquer coisa que
ultrapassa a nossa capacidade de entendimento para chegarmos a um ponto, nessa
viagem de regresso às origens, em que já não é possível avançar mais. A luz
passa a ser uma barreira, o fim da via.
O Big Bang não se deixa ver, tal a complexidade do momento
relativamente ao qual se admite a criação de “bolhas” ou seja, de outros
universos... enfim, um desafio abissal para a inteligência humana constituída a
partir dos mesmos materiais libertados nessa explosão.
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