Bastardes a todos... |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 232
21
Castor Abduim atravessou para a outra
margem: em breve não mais cruzaria sobre as pedras, molhando os pés na
correnteza.
Contratados pelo coronel Robustiano de
Araújo, mateiros derrubavam árvores, serravam troncos que Guido, Lupiscínio e
os rapa-tábuas transformariam em toros e pranchas para o projetado pontilhão.
O
Coronel duvidara que os dois mestres de carpintaria pudessem realizar obra de
tal monta, alvitrara a possibilidade de mandar vir oficiais habilitados de
Itabuna. Lupiscínio, um dos construtores do depósito de cacau e do curral,
ficou magoado com a proposta: afinal o Coronel conhecia-lhe de sobejo a
competência.
-
Ponha os cobres, Coronel, deixe o resto com a gente. O fazendeiro pusera os
cobres, o capitão Natário da Fonseca
também
entrara com algum, em breve a travessia do rio seria feita com toda a
segurança, na maciota.
Um ano atrás, quando os sergipanos ali
desembocaram, quem poderia imaginar esses progressos de pontilhão e casa de
farinha?
No que se refere à casa de farinha, a
construção chegava ao fim. Bastião da Rosa comandava dois serventes, concluindo
paredes; Lupiscínio e o filho, Arturzinho, torneavam a prensa quase pronta.
Havia uma azáfama de mulheres em
derredor da obra: Vanjé e suas noras, sia Clara, mulher de Zé dos Santos e
filha - a casa de farinha se elevava na divisa das tarefas de terra cultivadas pelas
duas famílias.
O
roçado e as criações de Altamirando ficavam um pouco mais além. Mas Ção e sua
mãe, Das Dores, também vinham ajudar. Ção queria que Zinho lhe ensinasse a
manejar a plaina, Zinho esperava lhe ensinar o manejo de instrumento mais
maneiro.
As mulheres carregavam pedras, preparavam
comida, trocavam ditos e sorrisos com os homens. Castor não enxergou Diva no
meio do rebuliço, onde estaria ela? Na lavoura, havia de ser. O negro sentou-se
no chão, saudou a confraria:
- Bastardes a todos.
A velha Vanjé aproximou-se:
- Deus lhe dê boa tarde, seu Tição.
Ressu trouxe pra gente um quarto de paca, diz-que ocê caçou. Deus que lhe dê em
dobro
- Apontou a construção: - Tá vendo? Não
vai demorar nós fazer farinha e não ter mais precisão de trazer de fora. Na
primeira fornada, vou mandar uns beijus pra ocê.
Também Bastião da Rosa, mãos e peito
sujos de cal, veio conversar.
- A primeira casa de pedra e cal que fiz
aqui foi a sua, se lembra? Aqui , já levantei casa de tijolo, de madeira, de
barro até de palha. Fiz barcaça, estufa, curral, o diabo a quatro.
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