Queria tê-la, sim, e para sempre. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 228
Aproveitaria para dar comida às cabeças,
aos seus santos protetores, Xangô, seu pai, Oxóssi e Oxalá.
Para curar-se do banzo, do olhado, do
quebranto. Para mais nada.
Bastião da Rosa dirigia a construção da
casa de farinha, ficava o dia inteiro ao pé de Diva. Ao que constava e se
dizia, tornara-se íntimo da família, adulava os velhos, confraternizava com Jãozé,
Agnaldo e Aurélio, eram vistos juntos na bodega de Fadul.
Contenda difícil, aperreio fuxicado:
Tição soubera das apostas e dos presságios. Apenas, no seu duro orgulho, não
desejava competir, usar de artimanhas, adular parentes.
Queria tê-la, sim, e para sempre. Mas
somente se ela qui sesse vir pelos
próprios pés, se assim lhe ordenasse o coração. Não recorreria aos encantados
para que ela se decidisse a gostar dele e a ele se entregar em razão de sortilégio,
de coisa feita.
Esse era um assunto dele, Castor Abduim da
Assunção, e não dos orixás. No abebê, Iemanjá resplandecia: olhar o rabo da
sereia era ver o rabistel da sergipana.
18
Despachados os tropeiros, no meio da
noite, Tição foi acordar
o passarinheiro Dodô Peroba no Caminho
dos Burros, sozinho não daria conta do recado. Alma Penada abria a marcha para
a mata mas Oferecida deixara-se ficar junto à forja, pejada da segunda barriga.
Da primeira desovara sete cachorrinhos. Mãe
extremosa, desesperava-se ao separar-se das crias que terminaram espalhadas nos
quatro cantos do povoado.
Um casal com Merência e Zé Luiz, outro no
roçado de Altamirando, os três restantes presenteados ao vaqueiro Lírio, responsável
pelo curral, a Zinho e a Edu.
Como se a este último não bastasse a
matula de cachorros e gatos que Zilda trouxera na bagagem. Com a mudança da
família para Tocaia Grande, Edu, continuando a trabalhar na oficina, voltara a
residir com os pais.
O sol ainda não dera sinal de vida e já
Tição e Dodô tinham descarregado em casa do negro o resultado da caçada: uma paca
grande e gorda, devia pesar seus bons dez qui los,
duas cutias e um teiú, abatidos enquanto vasculhavam o mato em busca de um cágado
para Xangô.
Trouxeram também meia dúzia de catassóis, os
igbins, bois de Oxalá. Dodô Peroba voltou para apanhar os passarinhos: deixara
as arapucas armadas nos galhos das árvores, se não se apressasse, Edu e Nando
fariam a féria às suas custas.
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