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TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 246
Bernarda ouviu o apaixonado arroubo do
adolescente, tratou de dissuadi-lo de tais loucuras, projetos absurdos. Mas o
fez sem menoscabo e até lhe agradeceu a distinção:
- Qualquer um pode lhe dizer por que não
quero nem ouvir falar uma coisa dessas...
- E por que tu não me diz, com tua boca?
- Pois lhe digo: tenho um homem e gosto
dele. É por isso.
Aurélio qui s
detalhes porém Bernarda se calou. O mais, ele soube por terceiros: caia fora,
menino, deixe a rapariga em paz, ocê corre o risco de passar uma vergonha, de
sofrer uma desfeita.
O capitão Natário da Fonseca? Um
ferrabrás? Menos por medo do que por gratidáo, Aurélio engoliu os planos,
vomitou o desgosto - pela mão e sob a égide do Capitão, a família dos sergipanos
tinha vindo se estabelecer em
Tocaia Grande.
Provações da mocidade, cabeçadas,
desatinos: assim se amadurece, no padecimento e na paixão.
Retornou ao favor das putas,
convalescente. Depois Cão despontou no horizonte, completando a cura. Viu-se o
jovem Aurélio a cercar a maluqueta com o afinco que lhe era peculiar, propenso
a viver com ela sem se importar com a leseira.
Ção deixava-se bolinar, fogosa e fácil,
permitindo quase tudo, mas, na hora da decisão, escapulia. Aurélio ficava tão
arretado a ponto de propor-lhe amigação, para pôr fim àquele abuso.
Atribuía a firmeza da recusa ao medo da
menina de se ver fodida e abandonada, na casa do sem jeito: não lhe negava
razão.
Um dia, quando menos esperava, Ção
deixou-se possuir. O entusiasmo da vitória malogrou-se em decepção ao constatar
que ela já não era virgem. Enfurecido, Aurélio tentou obrigá-la a dizer qual
dos dois, Zinho ou Durvalino, havia alcançado a meta que ele tanto perseguira e
desejara: comer-lhe os tampos.
Não obteve resposta: Ção só fazia rir e pedir mais.
Por vias travessas veio a saber que o rapa-tábuas e o caixeiro tinham sofrido
desilusão idêntica, feito a mesma e inútil pergunta - qual dos dois? sem obter resposta.
Diante do que, sem prévio acordo, cada um
continuou a derrubá-la nos matos: ela dava abasto aos três e a rir pedia mais.
Em Isaura, jamais pousara olhos de
interesse. Os roçados de
Zé dos Santos começavam onde terminavam
os de Ambrósio, a casa de farinha elevava-se na divisa, Aurélio via Isaura diariamente, era como se não a visse. Aos dezoito anos, apesar do açodamento, Aurélio
ainda não chegara à idade de assentar a cabeça e estabelecer família. Aos
dezesseis, Isaura começava a ultrapassar o tempo certo.
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