sábado, maio 16, 2015

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TOCAIA GRANDE

(Jorge Amado)

Episódio Nº 246

















Bernarda ouviu o apaixonado arroubo do adolescente, tratou de dissuadi-lo de tais loucuras, projetos absurdos. Mas o fez sem menoscabo e até lhe agradeceu a distinção:

- Qualquer um pode lhe dizer por que não quero nem ouvir falar uma coisa dessas...

- E por que tu não me diz, com tua boca?

- Pois lhe digo: tenho um homem e gosto dele. É por isso.

Aurélio quis detalhes porém Bernarda se calou. O mais, ele soube por terceiros: caia fora, menino, deixe a rapariga em paz, ocê corre o risco de passar uma vergonha, de sofrer uma desfeita.

O capitão Natário da Fonseca? Um ferrabrás? Menos por medo do que por gratidáo, Aurélio engoliu os planos, vomitou o desgosto - pela mão e sob a égide do Capitão, a família dos sergipanos tinha vindo se estabelecer em Tocaia Grande.

Provações da mocidade, cabeçadas, desatinos: assim se amadurece, no padecimento e na paixão.

Retornou ao favor das putas, convalescente. Depois Cão despontou no horizonte, completando a cura. Viu-se o jovem Aurélio a cercar a maluqueta com o afinco que lhe era peculiar, propenso a viver com ela sem se importar com a leseira.

Ção deixava-se bolinar, fogosa e fácil, permitindo quase tudo, mas, na hora da decisão, escapulia. Aurélio ficava tão arretado a ponto de propor-lhe amigação, para pôr fim àquele abuso.

Atribuía a firmeza da recusa ao medo da menina de se ver fodida e abandonada, na casa do sem jeito: não lhe negava razão.

Um dia, quando menos esperava, Ção deixou-se possuir. O entusiasmo da vitória malogrou-se em decepção ao constatar que ela já não era virgem. Enfurecido, Aurélio tentou obrigá-la a dizer qual dos dois, Zinho ou Durvalino, havia alcançado a meta que ele tanto perseguira e desejara: comer-lhe os tampos.

 Não obteve resposta: Ção só fazia rir e pedir mais. Por vias travessas veio a saber que o rapa-tábuas e o caixeiro tinham sofrido desilusão idêntica, feito a mesma e inútil pergunta - qual dos dois? sem obter resposta.

 Diante do que, sem prévio acordo, cada um continuou a derrubá-la nos matos: ela dava abasto aos três e a rir pedia mais.

Em Isaura, jamais pousara olhos de interesse. Os roçados de
Zé dos Santos começavam onde terminavam os de Ambrósio, a casa de farinha elevava-se na divisa, Aurélio via Isaura diariamente, era como se não a visse. Aos dezoito anos, apesar do açodamento, Aurélio ainda não chegara à idade de assentar a cabeça e estabelecer família. Aos dezesseis, Isaura começava a ultrapassar o tempo certo.

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