Cabaço por cabaço, o dela era de caixeta |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 247
Na raspa da mandioca, no apertar da prensa, no mexer do tacho, inesperadamente se reconheceram quando os olhos se cruzaram. Diva e Abigail haviam tomado cada qual seu rumo, também Isaura queria cumprir a sina que o céu lhe destinara.
Na casa de farinha, nos roçados, na beira
do rio, trocaram sorrisos e palavras, e quando se deram conta Isaura estava
prenha, Aurélio ia ser pai. Cabaço por cabaço, o dela era de caixeta e de
estalo, dificultoso. Atrás da prensa, no cheiro da raspa da mandioca, embriagador.
No conselho das famílias reunidas, o
mais difícil foi decidir onde ficariam vivendo. Na casa do rapaz ou na da moça?
Acordaram que seria na de Isaura, onde sobrava
um pouco mais de espaço, mas Aurélio continuaria a ajudar os pais: metade da
semana no eito de Ambrósio, metade no de José dos Santos.
Ção estranhou o retraimento de Aurélio,
sumido, reduzindo-lhe a escolha vespertina. O fato de se haver amigado não
explicava o afastamento. Para ela, casado, amancebado ou solteiro não fazia
diferença, eram bem-vindos todos, independente do estado civil e da idade.
Preferia contudo os homens feitos, eram menos tolos,
sabiam mais, não perdiam tempo com perguntas sem interesse. Moço ou maduro,
apressado ou delicado, um deles, qualquer que fosse não importava, haveria de lhe
pôr na barriga a semente de um menino. Um menino para embalar nos braços. Onde andaria
seu Pedro Cigano; bonito como o Cão?
6
A população crescia com a fixação no
arraial de viventes atraídos pelas notícias que, a respeito do progresso de
Tocaia Grande, circulavam na região do rio das
Cobras e mais além: em Ferradas, no Rio do Braço, em Sequeiro de Espinho, em
Água Preta, em Itapira, na cidade de Itabuna.
Tropeiros, mateiros e alugados - e mais
que ninguém o corre-a-coxia Pedro Cigano - alardeavam exageros sobre o
movimento, a animação e as raparigas.
As novidades chegavam até Ilhéus levadas
inclusive por fazendeiros ricos, coronéis da linhagem dos senhores da Atalaia e
da Santa Mariana. Crónica de sucessos alardeada notadamente pelo Turco Fadul
quando por lá aparecia para comprar e pagar mercadorias, para respirar ares
civilizados e neles se locupletar - em Ilhéus competentíssimas e caríssimas
francesas e polacas faziam de um tudo e o mais que se pudesse imaginar - e para
ver o mar.
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