terça-feira, maio 19, 2015

De esquerda ou de direita?
JESUS É DE

DIREITA

OU DE

ESQUERDA?










A Revista VISÃO, em tempos, interrogou várias personalidades da nossa vida política acerca da opinião que têm sobre esta interessante questão.

"De acordo com o discurso que teria sido proferido por Jesus (ou por quem lhe escreveu o guião, caso não tenha sido ele) e chegou até nós, ele foi, certamente, um dos maiores inovadores da ética que a história conheceu. O Sermão da Montanha é muito avançado para o seu tempo e o seu “dar a outra face” adiantou-se a Gandhi e Martin Luther King em 2.000 anos" – disse Richard Dawkins, ateísta militante mas grande admirador da personagem de Jesus da Nazaré.

A sua tolerância face à mulher adúltera:  “Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra”,  indicia uma política fracturante de costumes bem mais aberta do que a seguida até hoje pelas diversas igrejas que lhe reclamam a herança.

“É impossível a um rico entrar no Reino do Céu. Em verdade vos digo que dificilmente um rico entrará no reino do céu”. Repito-vos: - É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no reino do céu”.

Se estas afirmações não constituem uma condenação directa, pelo menos aos homens ricos do seu tempo, não deixam quaisquer dúvidas que “os ricos não pertencem à fraternidade com que Jesus queria construir na terra o reino dos céus” na opinião de Joaquim Carreira das Neves e colocam-no num posicionamento ideológico de esquerda, de acordo com os conceitos de esquerda/direita dos dias de hoje.

O Novo Testamento é a principal fonte da vida e dos ensinamentos de Jesus e terá sido escrito pelos seus discípulos, chamados “evangelistas”, entre os anos 60 e 100 da era cristã.

Embora Jesus tenha falado em aramaico, uma língua com alfabeto próprio ainda em uso na sua versão moderna na Arménia e em certas partes da Síria, o Novo Testamento chegou até nós em grego, que era a língua franca da época.

Centenas de escritos produzidos depois do Século I não integram os quatro Evangelhos - esta palavra vem do grego e significa: “boas mensagens ou boas novas” do Novo Testamento.

Mateus, Marcos, Lucas e João, terão sido os autores dos Evangelhos que têm os seus nomes e foram reconhecidos pelos doutores da Igreja como sendo os autênticos, os oficiais, que se denominam de Canónicos, enquanto que todos os restantes, e são muitos, ficaram a constituir os Evangelhos Apócrifos.

Depois da morte de Jesus, os seus seguidores sentiram uma necessidade natural de o recordarem e faziam-no juntando-se em casa um dos outros, clandestinamente, para afirmarem a sua fé e recordarem os ensinamentos do profeta.

Destes testemunhos orais, tipo conversas à lareira e às escondidas, até aos escritos foi um passo e muitos foram eles, centenas, uns de autores mais chegados a Jesus do que outros, todos escreveram documentos com relatos do que tinha sido a vida de Jesus.

Muita tem sido a celeuma à volta destes Evangelhos entre historiadores, linguistas e hermeneutas (pessoas especializadas em interpretar textos escritos).

A Igreja considerou os quatro já citados como especialmente inspirados por Deus e autoritativos, argumento que arruma qualquer espécie de discussão.

No entanto, várias religiões cristãs têm cânones diferentes aceitando uns e recusando outros.

Joaquim Carreira das Neves, 75 anos, padre franciscano, especialista em Estudos do Próximo Oriente e profundo conhecedor das circunstâncias históricas contemporâneas dos escritos do Novo Testamento afirma:

“Se vivesse hoje, Jesus era de esquerda, porque andava com os desclassificados e marginalizados. Jesus tinha muito apreço pelos que eram mais descriminados e andava sempre ao lado dos mais desfavorecidos”.


Richard Dawkins, Prémio Nobel, ateísta militante, e tantas vezes referido neste blog, é um grande admirador de Jesus tendo mesmo escrito um artigo intitulado: “Ateus por Jesus”.

Na sua opinião, a superioridade moral de Jesus confirma precisamente que a ética das Escrituras em que foi educado não o satisfazia. Afastou-se explicitamente delas, por exemplo quando desvalorizou os avisos severos quanto a desrespeitar o “sabat”: -  “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado”.


José Manuel Pureza, especialista em Estudos da Paz, docente de Relações Internacionais na Universidade de Coimbra, afirma:

- “Cristo foi um revolucionário, um blasfemo. Morreu assassinado, não morreu nem de velho nem doente – foi morto pelo poder político e religioso da época”.

Parece, pois, que se aceitarmos como boa a dicotomia entre “transformação” e “conservação” para separar a esquerda da direita, então, não há dúvidas sobre onde colocar Jesus:

- “Pôs-se sempre do lado da transformação – isso é, para mim, suficiente para dizer que de direita ele não seria”,  conclui o Professor.

Jesus da Nazaré foi o inspirador, pela qualidade ímpar da sua mensagem, da religião Cristã, fundamentalmente pela acção de quem, inicialmente, o queria combater, Paulo de Tarso, cidadão romano.

Os seus escritos vieram a constituir o mais importante do Novo Testamento e, não fosse ele, provavelmente não teria havido religião Cristã.

De esquerda ou de direita? - Por tudo quanto se veio a dizer e a escrever sobre o que ele disse, e tendo em conta o final trágico da sua vida, Jesus da Nazaré teria sido, mudados que fossem os tempos de então para cá, preso pela PIDE no regime de Salazar/Caetano e, nestes tempos democráticos, lideraria a bancada do PCP com a diferença apenas que já não preconizaria o fim iminente deste mundo para não perder votos.

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