Está mesmo doente?... |
Estará o Planeta
Doente?
Doente?
Não, o planeta não está doente mas como nós
gostamos de confundir as nossas dores com as dos outros lá vamos dizendo que o
planeta está doente.
Mesmo que não fizéssemos nada, mesmo
que não existíssemos, e só existimos há muito pouco tempo, o planeta, como
sempre aconteceu ao longo de milhões de anos, mantém-se em permanente
transformação obrigando os “seus passageiros” a adapt arem-se,
continuando a viagem, ou a descerem no próximo apeadeiro deixando, como prova
da sua existência, os ossos que muito mais tarde vieram a fazer as delícias dos
paleontólogos.
Claro que essas alterações aconteciam
a um determinado ritmo, e se qui sermos
usar um pleonasmo, acrescentar que era ao ritmo da natureza, e agora acontecem
ao ritmo dela mas com a ajuda do homem, excepção feita às grandes catástrofes
que viravam tudo de pernas para o ar de um dia para o outro.
E isso já aconteceu várias vezes e
nós próprios somos “filhos” de uma dessas catástrofes que tendo exterminado há
sessenta milhões de anos a espécie então dominante, os dinossauros, abriu para
os pequenos mamíferos de então, dos quais descendemos, uma janela de
oportunidade, como se diz agora, e cá estamos nós, a nova espécie dominante, a
exercer em toda a plenitude esse domínio.
O que é estranho é que sendo nós a
primeira espécie animal com capacidade para reflectir e aprender com o passado
e preparar o futuro tenhamos usado essa extraordinária faculdade exactamente de
forma contrária aos interesses da nossa própria espécie.
A relação do homem com o habitat
processou-se ao longo dos últimos tempos de uma maneira consideravelmente
diferente da dos outros animais que têm de fazer, por transformações no seu
próprio corpo, a totalidade das “despesas” de adapt ação
às alterações do meio ambiente.
No caso do homem, embora tenha havido
adapt ações físicas que o foram
ajustando a diferentes condições ambientais, o que aconteceu de diferente é que
foi ele, no seu próprio interesse, assim o julgava que, a partir de certa altura, foi modificando a
natureza para a adapt ar a si próprio
e a um tal grau que se confronta hoje com ameaças sérias, senão à sua
sobrevivência como espécie, pelo menos à forma e estilo de vida no futuro.
Tal como o aprendiz de feiticeiro
que, por imaturidade e falta de senso, não soube utilizar as mágicas que o
mestre lhe ensinou também o homem, por ignorância, egoísmo, avidez e
irresponsabilidade, tem alterado tudo ou quase tudo à sua volta conseguindo,
estilo formiguinha, resultados quase idênticos aos do embate do grande
meteorito de há sessenta milhões de anos.
Neste momento, a “elite mundial” que
somos todos nós excluindo dela os milhões de pessoas que tentam sobreviver à
fome, à doença e às guerras e que não é crível que estejam preocupadas com o
destino do planeta, tomou finalmente consciência de que continuar neste ritmo
sem nada fazer é apressar um desfecho cuja configuração ainda não é bem percept ível em toda a sua dimensão.
O problema mais preocupante, embora
tudo esteja interligado, é o aumento de CO2 na atmosfera em consequência da
queima de combustíveis fosseis, fundamentalmente, petróleo e carvão, que
provoca efeito estufa com o consequente aumento das temperaturas e por
arrastamento a diminuição dos glaciares e da camada de gelos nos pólos, a
subida dos níveis das águas dos oceanos para além de súbitas alterações climáticas.
Ora, sabendo nós, que as populações
se acumulam em todo o mundo em zonas ribeirinhas, é fácil adivinhar as
repercussões que daí podem advir para milhões e milhões de pessoas e também não
é difícil prever que os mais pobres vão ser, mais uma vez, os mais atingidos.
O processo crescente de
desertificação, o contínuo abate das florestas, as redes de arrasto que
destroem tudo à sua passagem no fundo dos mares e depois aqueles gostos e
preferências esqui sitas dos povos
asiáticos, muitos deles, gente de dinheiro e instruída - penso eu - que não passa
sem a sua sopa de barbatana de tubarão (barbatana que, ao que dizem, não sabe rigorosamente a
nada) levando à destruição de um animal importantíssimo no equi líbrio da vida nos mares e continua a acreditar,
ingénua e estupidamente, que o “corno” do rinoceronte tem propriedades
afrodisíacas e que todas as partes do tigre são ópt imas
para tratarem as mais variadas doenças do corpo humano, etc., etc., etc...,
representam o lançar de mais “achas para a fogueira”.
Agora fazem-se concertos musicais por
todo o mundo por causa do aquecimento global, das focas e dos ursos do pólo
Norte, cuja calote já perdeu 40% da sua espessura, e que irão desaparecer por
falta de habitat e até o Sr. G. Bush, cujo negócio da família é vender
petróleo, assinou com o Presidente Lula um Acordo de Cooperação com os
objectivos, entre outros, de promover a definição de padrões internacionais
para o etanol e promover a cooperação dos dois países em terceiros mercados na
América Latina e na África à volta da produção de etanol.
Mas eu, que me considero um opt imista, aqui
sou cépt ico pois tenho alguma
dificuldade em acreditar que continuando uma política de “mais energia”em vez
de “melhor eficiência energética” e sem mudança de hábitos e de estilos de vida
se vá resolver o problema até porque, o aumento da produção de etanol no Brasil
- e eu não nego a importância que ele tem pois representa uma redução de 30
milhões de toneladas de CO2 por ano na atmosfera - pela intensificação da
cultura da cana que deixou de ser do açúcar, não é isento de perigos pois
embora se diga que existe terra disponível o avanço da produção da cana em
áreas destinadas à pecuária, pelo menos no Estado de S. Paulo, nos últimos 3
anos, está levantando o problema de para onde levar milhões e milhões de
cabeças de gado… e se no fim for para pôr mais uns milhares de automóveis na
estrada é bom de ver que tudo ficará na mesma.
Quase todos os países do mundo que
têm nas suas entranhas geológicas petróleo em quantidade suficiente para
sustentar esta matriz industrial hegemónica vivem em grande instabilidade
política ou sob permanentes ameaças - o Médio Oriente, a Ásia Central, Nigéria,
Colômbia, Venezuela, Bolívia, constituindo uma espécie de sector “de senhores
da guerra” que, com certeza, não permitirão que o seu negócio lhes saia das
mãos.
E depois, temos mil e trezentos
milhões de chineses que de 4 em 4 dias inauguravam uma fábrica de produção de
energia a partir da queima do carvão, matéria-prima que têm em grande
abundância e, finalmente, um Presidente da Câmara, na China, que já não podendo
fazer mais nada perante o trânsito caótico da sua cidade pede aos seus
munícipes, com a cordialidade própria da sua cultura, que, “por favor, não
comprem mais automóveis”….
Conseguir, para já, inverter todo
este processo quando, aparentemente, ainda todos vamos vivendo mais ou menos na
mesma, para mim, não é crível.
Está implantado em todo o mundo, e os
que ainda não o possuem desejam tê-lo, um estilo de vida que passa por um
automóvel ou dois em cada família, e não nos esqueçamos que eles são os
responsáveis pela emissão de 90% do monóxido de carbono para a atmosfera, e uma
casa cheia de electrodomésticos e se a produção de electricidade ainda pode ser
feita com recurso às energias inesgotáveis do vento, do sol, futuramente das
ondas do mar e das hídricas, que com as barragens estragaram o curso dos rios e
quase acabaram com o sável no Tejo da minha infância, estamos ainda muito longe
de suprir com elas as nossas necessidades.
Mais difícil mas não impossível é
alimentar os motores de explosão dos nossos automóveis com uma energia limpa de
CO2 mas isso só acontecerá quando “os senhores da guerra”, a indústria dos
automóveis e os políticos influentes de todo o mundo, entenderem que chegou o
momento.
Nós vivemos governados pelo “mundo
dos interesses” sedeado cada vez mais nos Conselhos de Administração das
grandes empresas que à escala global vão decidindo sobre o mundo e o destino de
todos nós acreditando eles, que com todo o seu dinheiro, sempre conseguirão um
cantinho confortável em qualquer parte e depois, quem sabe, se “essa do aquecimento
global” não será mais uma ópt ima
oportunidade de negócio no futuro para aumentar ainda mais as suas fortunas?…
mas isto são fantasmas meus.
Não desesperemos, pois, e ouçamos os
concertos de música que, a este propósito, se vão realizando por todo o mundo,
ensinemos as nossas crianças a fazer a separação dos lixos para efeitos de
reciclagem e, principalmente, eduquemo-las a respeitarem a natureza, da qual
fazem parte, como a coisa mais importante deste mundo.
O futuro das próximas gerações irá
ser um terrível desafio, não para este ou aquele país, esta ou aquela região
mas para as gerações de todo o mundo dado que, relativo a elas, nada se pode
garantir quanto às condições em que as suas vidas irão decorrer.
De positivo, a noção generalizada, de
que todos estão irmanados no mesmo grande problema e que este facto deverá
constituir um factor de união porque nada é exterior a ele e tudo terá a ver
com a possibilidade de poderem continuar ou não a navegar neste planeta,
terceiro do sistema solar, na extremidade da Via Láctea e o único que
conhecemos, respirando o ar e olhando o céu que inspirou os poetas e nos fez
sonhar a todos nas noites cálidas de Verão.
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