Bombardeamentos sobre o Vietname |
O VIETNAME
Depois de terem entrado nas duas Grandes Guerras Mundiais com
uma contribuição decisiva para o desfecho de qualquer uma delas, na defesa da
liberdade contra a tirania, os E.U.A. fizeram intervenções desastradas,
inúteis, para servirem interesses militaristas com resultados condenados pelo
próprio povo americano e pelo mundo.
Refiro-me à invasão do Presidente Buch ao Iraque com as
consequências que estão à vista e sem saber ainda bem onde irão parar e a
Guerra do Vietname que durou uns 10 anos e terminou em 1975 com profundos
traumas para toda a sociedade americana e muito especialmente para todos
aqueles que nela participaram.
Hoje, quem visite o Vietname só pode abanar a cabeça com a
incredulidade perante a ideia de que, há meio século, os americanos escolheram
aquele país para travar uma guerra.
Não deviam estar
“bons da cabeça” porque o ponto de partida era fútil como também era percept ível que iria evoluir para um envolvimento em
larga escala - 2.300.000 americanos de 1961 a 1974 com quase 60.000
mortos e mais de 300.000 feridos, e 2 milhões de vietnamitas civis mortos - sem que tivessem perguntado a si próprios se
aquela guerra fazia algum sentido, até porque, tendo os E.U.A. nascido em 1776
na sequência da luta armada pela independência, é estranho não terem percebido
as aspirações do Vietname em livrar-se, também ele, da exploração colonial.
Só visitando
o Vietname se consegue avaliar a que ponto a intervenção dos E.U. estava, desde
o início, condenada ao insucesso. E isto por quatro observações que, no fundo,
explicam tudo.
- Em primeiro
lugar, o sul do país – a área que os americanos vieram defender dos invasores
comunistas – resumia-se a um gigantesco arrozal. Num terreno destes os tanques
não ajudam. Tão pouco as tropas, por melhor equi padas
que estejam, acabam inevitavelmente atascados.
- Em segundo
lugar, poucos povos serão tão laboriosos e enérgicos como os vietnamitas. Caminha-se
pelas ruas de Hanói ou de Saigão, de qualquer outra cidade ou aldeia e o que se
vê são pessoas sempre em correria, atarefados, mas tratando metodicamente dos
seus arrozais, fazendo entregas, reparando calçado, costurando roupa.
Um povo com
esta energia dificilmente será derrotado e muito menos por um exército a operar
13.000 km
afastado do seu território nacional.
- Em terceiro
lugar, o Vietname é como uma colmeia. Para se ter a noção dessa força imparável
basta posicionar-nos no centro de uma cidade. Felizmente o
país ainda não completou a transição para o automóvel. O meio de transporte
continua a ser o ciclomotor.
Seja qual
for o local em que nos posicionemos na cidade de Hanói o que vemos são vagas
intermináveis de ciclomotores com quatro ou cinco filas de largura, mesmo em
ruas relativamente estreitas, e com dez a qui nze
nas ruas mais largas, vindo na nossa direcção.
Movem-se com
desembaraço mesmo com um casal e duas crianças ou com um pendura segurando um
frigorífico de razoáveis dimensões. Também deslizam raparigas com ar solene
para entregar coloridos e imponentes ramos de flores e o que é surpreendente é
que os acidentes são raros, quase inexistentes.
Olhando para
esta energia pacífica, toda esta velocidade, toda esta fluidez de movimentos
ficamos a fazer uma ideia do que representaria tudo isso virando-se contra uma
força invasora.
Foi graças a
essa força que o Vietcongue derrotou o poderoso exército americano. Foi com
essa determinação e engenho que construíram túneis de 200km que passavam por
baixo do Quartel - General da 25ª Divisão no delta do Mekong.
- Em quarto
lugar, vem a imensa simpatia e cordialidade dos vietnamitas comparados com
outros povos asiáticos. Possuem uma
franqueza inata e desarmante, estão globalizados ainda que à sua maneira.
(Trecho de um artigo do Courrier Internacional)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home