terça-feira, junho 02, 2015

Não caçava passarinhos para os vender na feira.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 258

















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Não apenas os pássaros, outros bichos também. A viúva Natalina possuía um jupará da cor de mel queimado que ressonava na caixa da máquina de costura, enrodilhado na comprida cauda.

A crer no povo, os juparás, ditos macacos-da-meia-noite, eram plantadores de cacau: dormiam o dia inteiro, atravessavam a noite na maior estripulia. Merência e Zé Luiz criavam na olaria uma jibóia: já passara de dois metros e ainda não terminara de crescer.

Mantinha o local livre de animais daninhos e afugentava as cobras venenosas. Putas e meninos optavam pela reinação dos micos.

Dodô Peroba não caçava passarinhos para os vender na feira,
tampouco para tê-los simplesmente cativos em gaiolas, enfeitando o salão de barbeiro - chamar a acanhada peça, onde fora colocada a cadeira feita por Lupiscínio, de salão de barbeiro era gabolice igual à de designar o terreiro do galpão por salão de baile, maneiras de dizer dos moradores do lugar.

Da farta recolha das trampas, muitas vezes o passarinheiro não guardava sequer uma única ave. Depois de estudá-las com atenta minuciosidade, de sujeitá-las a ensaios e exercícios curiosos e estranhos, selecionava pouquíssimos exemplares, baseando-se em misteriosas conclusões só dele conhecidas.

Voltava a soltar a grande maioria, quando não a totalidade, e ao vê-los voar felizes com a inesperada liberdade, demonstrava tal contentamento que se poderia imaginar um absurdo: ele os aprisionara apenas para ter o prazer de libertá-los.

Os escolhidos - pela beleza, pelo canto, pela vivacidade, sabe-se lá por quê? - passavam a viver nas gaiolas penduradas na barbearia e a ocupar a maior parte do tempo do passarinheiro.

Dodô os amansava e com infinita paciência e extrema mestria lhes ensinava a fazer coisas de pasmar. Com o bico, movimentavam nas gaiolas maquinismos de cordões trançados, baixando e suspendendo dedais para enchê-los nos bebedouros de lata, como se fossem pessoas a retirar água de cacimbas.

Descerravam as tampas das gavetas de madeira para comer o alpiste, abriam e fechavam a porta da gaiola e etecétera e tal, um ror de habilidades.

Dodô comandava-os estalando os dedos. Meu Menino, Flor do Mato, Cravina, Arrepiado, Bogalhudo, cada qual atendia por um nome; vinham voando quando chamados pela voz melíflua do amansador.

O barbeiro conseguia que, libertos da prisão da gaiola, voassem dentro e fora da casa,

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