terça-feira, julho 21, 2015

Alemanha unificada
A raiva destrutiva da 

Alemanha

(Jacob Soll, Prof. de História na Universidade do sul da Califórnia)













Foi finalmente alcançado um acordo que poderá manter a Grécia na zona do euro. São poucos os que estão felizes com o resultado.

Já ouvimos muito sobre como os gregos se sentem humilhados. Mas ouvimos falar menos sobre a irritação alemã e sabemos que eles estão zangados.

Foi referido que o Ministro das Finanças, Wolfgang Shauble, começou a gritar durante as negociações da noite de sábado.

A França e a Itália fizeram ambas grandes empréstimos à Grécia, mas nenhum dos países tem expressado hostilidade para com aquela. Por que é que a Alemanha está tão zangada?

Como historiador económico vi uma amostra deste ressentimento durante uma conferência sobre a dívida soberana grega realizada em Munique, na semana passada.

Teve lugar no Centro de Estudos Económicos e no Info Institut, que são dirigidos por Hans-werner Sin, economista alemão e defensor de longa data da saída da Grécia da zona euro.

A Conferência incluiu economistas, contabilistas, jornalistas, investidores e funcionários do governo tanto da Grécia como da Alemanha.

Pontos de vista divergentes foram expostos por Mitu Gulati, Prof. de Direito da Universidade de Duke que ajudou a conceber um resgate grego anterior; por Ashoka Mody, economista que pertenceu ao FMI e que advoga o perdão da dívida; por peritos em contabilidade, que concordaram que a dívida total da Grécia parece ter sido inflacionada; e pelo Sr. Sinn.

Mas quando os economistas alemães falaram na sessão de encerramento, um tom completamente diferente tomou conta da sala. Juntamente com os números e as teorias económicas veio uma mensagem moral:

- os alemães eram ingénuos e honestos e os gregos eram corruptos, incompetentes e pouco fiáveis.

Ambas as partes foram reduzidas a caricaturas de si mesmas. Fomos ouvindo esta história ao longo das negociações mas, naquela sala, ficou claro quantos pontos de vista dos economistas alemães são moldados pelo ressentimento.

Clemens Fuest, do Centro de Pesquisa Económica Europeia, que aconselhou o Sr. Shauble, não deixou de recitar números sobre a dívida e o crescimento gregos e disse que os gregos tinham falhado a todos os níveis ao longo dos últimos anos na gestão da sua dívida.

Ele achava que eles deviam ser corridos simplesmente da zona euro. Henrik Enderlein, do Instituto Jacques Delor, pró-europeu, disse que a Grécia deve permanecer na zona euro, mas apenas se for aplicada mais austeridade e uma melhor gestão.

Daniel Gros, director do Centro de Estudos Políticos Europeus, teorizou que a dívida e os problemas económicos gregos apenas poderiam ser combatidos com melhores números nas exportações.

Todos os pontos eram importantes mas ouvi-los da boca daqueles economistas parece que a Alemanha não desempenhou qualquer papel na tragédia grega.

Eles entregaram o seu dinheiro e ficaram a ver os gregos a destruírem-se nos últimos quatro anos. Agora, os gregos merecem o que lhes está a acontecer.

Explicaram que os devedores que não pagam simplesmente teriam de sofrer, por muito duras e até mesmo injustas que fossem as condições dos empréstimos. Havia aqueles que geriam as suas economias bem e sofreram em silêncio como a Finlândia e a Letónia, disseram.

Em contraste, um país como a Grécia, onde muitas pessoas não pagam os seus impostos, não parece merecer empatia.

Aquilo recordou-me que em alemão, a palavra dívida, "schuld", significa também falha moral ou culpa.

Quando perguntei se havia alguém que tivesse visitado a Grécia para avaliar a pobreza, a fuga de cérebros e o encerramento de empresas, eles simplesmente abanaram a cabeça.

Quando perguntei que responsabilidades sentiam ter aqueles economistas de topo na crise grega, eles disseram-me que eu não podia compreender a situação limitando-me a chegar aqui vindo dos E.U. (para que fique esclarecido eu passei a maior parte do ano na Europa, reunindo-me com o anterior governo grego da Atenas – onde vi pessoas de idade famintas a vasculhar em latas do lixo – e posteriormente com membros da Comissão Europeia. Em Bruxelas.

Quando a conferência acabou, os participantes alemães rodearam-me para me explicar como os gregos estavam a roubar os alemães. Eles não queriam continuar a ser vítimas.

Há aqui uma grande divergência cultural (...que começou com Martinho Lutero...) e também um risco para os alemães pois parece que o seu sentimento de vitimização os faz perder a calma tanto nas negociações como nas suas avaliações económicas.

Se os alemães vão liderar a Europa não podem fazer-se de vítimas.

Quando eu salientei que os alemães tinham desempenhado um papel importante nesta situação, no mínimo ao insistirem na austeridade e na dívida insustentável ao longo dos últimos três anos, pouco fazendo para melhorar os padrões da contabilidade e impondo agora um controle de capitais devastador, o Sr. Enderlein e o Sr. Fuest troçaram.

Quando eu mencionei que muitos tinham visto a austeridade como um novo Tratado de Versalhes de 1919, que traria no futuro um governo caótico e pouco credível na Grécia – exactamente do tipo contra o qual o Sr. Enderlein tinha alertado num artigo no The Guardian – eles responderam que estavam furiosos por terem sido comparados com nazis e terroristas.

Quando fiz notar que por muito mal que os gregos tivessem gerido a sua economia as exigências alemãs e o possível caos de um grexit arriscavam o aparecimento do populismo político, da agitação e da miséria social, eles ficaram impassíveis.

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