Largo do Seminário |
HOJE É
DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém em 19/7/ 15)
Não Sei como isto funciona.
Na história do
Feiticeiro de Oz, na parte final, o feiticeiro parte no balão e a menina
suplica-lhe que volte. «Não posso” responde ele numa voz que se perde ao longe.
«Não sei como isto funciona!»
Esta frase podia ser
aplicada para a nossa actual compreensão de nós mesmos e a explicação evolutiva
constitui um esforço muito recente nesse sentido, algo que se desenvolveu pelo
meio da evolução genética e leva pequenos grupos a organizarem-se em unidades
coordenadas.
Uma aldeia é uma
associação tão perfeitamente natural que parece constituir-se a si própria.
Pense no seguinte:
Tanto quanto sabemos,
descendemos todos de uma pequena população que se espalhou a partir de África
há cerca de 70.000 anos e que cobriu o globo, desalojando, á medida que
avançava, populações anteriores de Homo e muitas outras espécies.
É isto o “êxito
ecológico que exigiu uma extraordinária flexibilidade comportamental.
Não se tratou de
implementar “planos de guerra” que antes tivessem evoluído geneticamente no
continente africano, mas de um processo mais aberto de criar e reter novas adapt ações.
Diversificámo-nos em
milhares de “modos de vida”, falando línguas diferentes e praticando diversas
actividades de subsistência, da colheita de sementes até à pesca da baleia.
Adapt ámo-nos a todas as zonas climáticas, da floresta
tropical até ao deserto e às paragens gélidas do Ártico. Invadimos os mares com
barcos.
Ecologicamente,
tornámo-nos o equi valente a centenas
de espécies diferentes numas meras dezenas de milhares de anos, em vez de nos
milhões de anos necessários para uma irradiação adapt ativa
comparável por evolução genética.
A nossa capacidade para
a cultura fez a evolução avançar à velocidade da luz sendo que, a principal adapt ação humana vai no sentido dos nossos
comportamentos serem adqui ridos cada
vez menos directamente a partir dos nossos genes e cada vez mais a partir de
outras pessoas, como as histórias e outras narrativas, a dança, a música e as
artes visuais.
O advento da agricultura
introduziu mais alterações do que as que se tinham verificado durante toda a
nossa história enquanto espécie.
O comportamento das
pessoas, que nada ou pouco têm a ver com a herança genética, é que faz a história
e esse muda cada vez mais rapidamente.
No passeio, em frente
da esplanada onde estou sentado, dois homens passam de mão dada.
Um casal de meia-idade,
na mesa ao lado, desabafa:
- É uma vergonha. – Cada vez vê-se mais disto.
Até já casam uns com os outros!
Uma reacção ditada pela
tradição mas que está em rápida mudança na nossa sociedade, tal como tem sido
ao longo dos tempos.
Voltemos à história do
Feiticeiro de Oz quando ele parte no balão e a menina suplica-lhe que volte:
- “Não posso. Não sei como
isto funciona”
Estamos entregues a nós
próprios e não sabemos como e porquê funcionamos assim.
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