segunda-feira, julho 27, 2015

Assim Nasceu 

Portugal


(Domingos Amaral)


Episódio Nº 26












Cem anos já haviam passado e aquela gente ainda fantasiava com a ressurreição do califado de Córdova.

Não eram como ele, um berbere fiel aos éditos do profeta mas sim uns degradados pela conveniência dos cristãos e até judeus.

Judeus instalados no coração de um califado islâmico! Existiam mesmo alguns muçulmanos que se haviam convertido como Zaida, a traidora, que casara com Afonso VI e lhe dera Sancho, seu único filho varão.

O velho ambicioso intitulava-se imperador das duas religiões. Fora o próprio Ali Yusuf quem lhe matara o herdeiro Sancho, em Uclés, e acabara com esse sonho impensável de unir os reinos cristãos e muçulmanos da Península sob um único monarca.

Contudo, para Ali Yusuf, os cristãos eram menos perigosos do que o governador de Códova e sua família de mulheres.

Taxfim ia dar trabalho a convencer. O califa teria de usar o segredo que conhecia para o paralisar, pois não queria matá-lo, pelo menos para já.

Ainda necessitava dos seus préstimos para a guerra, embora pudesse acabar com ele num instante.

Olha para o fundo da tenda onde está um homem de pé, atrás de um biombo. É um persa alto e magro, envolto num manto branco, apertado à cintura com um cordão vermelho e com um capuz a cobri-lhe a cabeça.

Veio de longe para espalhar a morte e faz isso muito bem. Na Pérsia, chamavam-lhe fedayin e o califa não sabe o seu nome próprio, nem quer saber, mas apenas que ficou muito mais forte desde a chegada deste homem, à sua corte, meses atrás.

Chama-o e ordena-lhe:

- Mata todos os doentes e deixa os cadáveres a apodrecerem ao sol, para os cristãos adoecerem com a pestilência que nos pegaram.

O fedayin sai da tenda em silêncio, vai fazer o que tanto gosta. O califa sente um arrepio e tem saudades da sua Marraquexe e de tâmaras. Grita pela criada mas a rapariga não aparece.

Quem surge é Taxfin, de rompante, aos gritos:


 - Senhor, e a vossa promessa?

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