(Domingos Amaral)
Episódio Nº 30
Elvira encolheu os ombros e dirigiu-se para a carroça, onde dois servos a esperavam. Deixara um borrego a assar, que já devia estar pronto, e o marido era cioso com as horas dos repastos.
Meteram-se ao caminho, mas
no cruzamento da estrada com Compostela Elvira aterrorizou-se.
À espera delas aguardava um
destacamento de cavaleiros e, examinando os estandartes, a senhora de Toronho
concluiu que eram tropas do arcebispo de Gelmires.
Chamoa e Maria encostaram-se
à mãe enquanto um cavaleiro declarava que iria levá-las à presença do prelado
de Compostela.
Aflita, Elvira Peres de
Trava olhou para o castelo de Tui, a poucas léguas e viu-o já cercado.
Conhecia Gelmires de vista,
nas suas idas a Compostela, e um pouco mais tarde aquele homem gordo, calvo e
desagradável, explicou-lhe que ele e Dona Urraca iriam obrigar Gomes Nunes a
declarar-se finalmente súbito da rainha.
Caso contrário, Tui seria
saqueada. A chorar, com as filhas agarradas às saias, Elvira implorou
misericórdia e pediu ao prelado que poupasse o seu esposo.
Relembrou-lhe que era uma
Trava, que seu irmão se juntara com Dona Teresa e que seu pai, Pedro Frolaz,
sentiria qualquer ataque a Tui como uma ofensa que não passaria sem retaliação.
O cínico Gelmires bateu as
grossas pestanas e perguntou-lhe:
- Com qual dos vossos irmãos está casada Dona
Teresa? Nunca sei...
A malícia daquele homem de
nome grotesco era compreensível. A inconstância amorosa de Dona Teresa – que
primeiro vivera com Bermudo, casando-o de seguida com uma filha dela, Urraca
Henriques, para depois se unir ao irmão dele, Fernão – era um desvario
incestuoso que incendiava contra ela os religiosos da região.
Atrapalhada, Elvira calou-se
e as filhas choramingaram, enquanto o untuoso Gelmires avisava:
- Não podeis casar com dois irmãos quando
ambos ainda estão vivos, Deus castiga-vos!
De seguida, o arcebispo
enviou-as para uma tenda, onde era suposto permanecerem sossegadas, enquanto
durasse o cerco a Tui.
Contudo à hora da ceia,
Elvira viu aparecer seu irmão, Fernão Peres de Trava.
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