sábado, agosto 15, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)                     


Episódio Nº 33



















Meu pai e meu tio ordenaram um apressado regresso a Guimarães, onde encontramos um temeroso Paio Soares. Sempre vaidoso, aperaltado na sua dalmática verde, o alferes exclamou, esbaforido, que a rainha e o arcebispo estavam a caminho da cidade para a saquear!

Desde a ameaça com que Dona Urraca o brindara em Astorga, no dia da morte do conde Henrique, que Paio Soares a temia.

Dizia-se que sofria de tenebrosos pesadelos, pois achava que ela o queria eliminar, depois de lhe extrair a informação sobre o paradeiro da relíquia.

Esse receio confundia-o e a sua informação revelou-se errada: Dona Urraca mantinha-se em Lanhoso.

Aliás, um mensageiro enviado secretamente por Fernão Peres de Trava impunha aos portucalenses que se dirigissem a essa povoação, onde Dona Teresa se iria defender dos invasores.

A ordem era inequívoca, mas, temeroso, o antigo alferes considerou-a imprudente.

- Somos muito menos que os leoneses, castelhanos e galegos, seremos dizimados facilmente – considerou Paio Soares.

O senhor da Maia batalhava contra os mouros em Coimbra, Santarém e Sintra, e tinha inegável experiencia de combate. Além disso, conhecia bem o terreno à volta de Lanhoso, rodeados de vales propícios a emboscadas.

Assim, escondeu o seu profundo medo em conselhos prudentes.

Egas e Ermígio Moniz concordaram com ele, e decidiram aguardar por novidades, mas logo Afonso Henriques, apesar dos seus onze anos, se empertigou e protestou contra aquela timidez portucalense.

- Minhas mãe será cercada, não a podemos deixar sozinha!

Os seus percetores compreenderam a preocupação, mas Paio Soares revelou-se intransigente; jamais colocaria as suas tropas em risco nos arrabaldes de Lanhoso!

Porém, e por mais veementes que fossem os seus argumentos, não convenceram o jovem príncipe. Enervado, o rico homem da Maia amuou e declarou que, se não seguiam os seus conselhos, não valia a pena perder tempo.

Na verdade, o que ele tinha era um medo fantasmagórico de Dona Urraca, e por isso resolveu afastar-se, mais uma vez, da sua Maia.

Exaltado, saiu pela porta da torre de menagem e gritou:

 - Ramiro, preparai o meu cavalo!

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