sábado, agosto 29, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos do Amaral)



Episódio Nº 45


















Após sussurrar estas últimas palavras, o monge faleceu e a mulher de negro colocou-o no túmulo depois de o sangrar com uma faca, para garantir que estava mesmo morto.

De seguida, pôs a laje no lugar, regressou à esteira e adormeceu.

Acordou uma horas depois, já com o dia a nascer e abandonou o eremitério. Estava um dia de sol e ela decidiu fazer o que nunca fazia, retirou o capuz para aquecer o rosto, e cerca de duas léguas à frente, na direcção de Coimbra, cruzou-se de repente com um cavaleiro que lhe perguntou se sabia onde ficava um eremitério.

Quando ele partiu, teve um súbito e estranho pressentimento e correu a esconder-se nuns penedos. Algum tempo mais tarde o cavaleiro reapareceu à procura dela, a passo.

Era evidente que fora ao eremitério, descobrira o monge morto e agora queria saber o que ele tinha dito à mulher.

Quando me descreveu estes eventos, Mem garantiu que a bruxa fora cautelosa e, por precaução, se mantivera invisível até o desconhecido partir.

Várias horas depois ainda duvidava de si própria, relatou Mem. Qual o motivo daquele estranho susto que a levara a esconder-se?

Porque lhe tremiam as mãos? Estava outra vez louca? Eram perguntas para as quais só tivemos resposta muitos anos depois, quando tudo se tornou mais claro, quando descobrimos quem era o terceiro homem, o que era a relíquia e onde estava escondida.

Deus deu à bruxa as chaves das Portas dos Infernos, mas não o poder de as abrir.



Viseu, Sexta-Feira, Abril de 1126


“Jumenta”, pensou minha prima Raimunda quando viu aquela linda galega atravessar o pátio, em frente da igreja de Viseu. Aos dezassete anos, a minha prima continuava a mesma magricela de sempre, quase não se distinguindo de um rapazola.

O meu tio Ermígio dizia-lhe para não se comparar, mas sempre que via uma rapariga bonita o mundo fugia debaixo dos pés da minha pobre prima.


Naturalmente, que o seu profundo temor era que Afonso Henriques se apaixonasse por outra. Naquela época, quando a revimos, Chamoa Gomes já tinha dezasseis anos e a irmã, Maria Gomes, a minha Maria que, reconheço, não era tão deslumbrante, tinha dezassete.

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