Do Norte e do Sul, todos lhe caíram em cima

Os Bárbaros

Se dissermos que Roma no Ano 120 AC tinha 1.650.000 pessoas e que, por volta do Ano 300 DC, estava reduzida a 50.000, temos uma noção mais exacta do que terá sido a queda da que foi a capital do maior e mais prolongado império registado na história da Europa e do mundo, começado 500 anos AC.

Valeu a Igreja que guardou os livros e o saber que despontariam 1.000 anos mais tarde. O resto, a magnificência, os mármores, toda a arquitectura, a prosperidade artística e social foi desbaratada pelos bárbaros, vindos do Norte e também do Sul, de Cartago: ostrogodos, visigodos, vândalos, enfim, tudo gente pouco recomendável...

Ficaram ruínas, pedras pelo chão, restos de colunas que, mesmo assim, ainda fazem as delícias dos turistas que as montam na sua imaginação até voltarem a ser os monumentos grandiosos que elas agora escondem.

Mas a herança de Roma, a grande herança, para nós, latinos, que pela força das legiões, também fizemos parte do Império Romano, não está naquelas pedras cruelmente espalhadas pelo chão em desordem.

Foi o latim, de onde a nossa língua deriva, o Direito, que inspirou as nossas leis, as obras públicas e as estradas que deixaram por toda a Europa, as tais de que se dizia “que todos os caminhos iam ter a Roma.”

A organização administrativa, logística e militar, o grande segredo do sucesso, tudo isso nós herdámos porque a memória é indestrutível e aquilo que ainda hoje perdura nas ruínas da cidade de Conímbriga e no subsolo da cidade de Lisboa diz-nos bem do requinte e bom gosto com que aqueles senhores viviam.

Será que a Europa, a nossa Europa, que se destaca de todo o resto do mundo, pela forma como os seus cidadãos são tratados perante a lei, protegidos na doença, na velhice, no desemprego, com direitos e obrigações iguais, também vai definhar? - Não acredito!

É verdade que preocupações não nos faltam... quando a recepção de umas centenas de milhar de pessoas que fogem à morte, provoca a rotura de quatro países da Comunidade no cumprimento de uma decisão que devia, de acordo com as regras da União Europeia, ser acolhida e cumprida por consenso.

A Comunidade Europeia tem que continuar a ser um referencial de humanismo e solidariedade, é isso que a distingue, é isso que a torna apetecível, não os muros, o arame farpado ou os tiros.

Os EUA, com o apoio e intervenção de outros países europeus, nomeadamente a Inglaterra, ao intervirem contra os ditadores a favor das primaveras árabes, criaram as condições para o que está a acontecer a estas pessoas.

É um teste à União Europeia e à sua liderança que, no que respeita à Alemanha e à Srª Merkel, se está a comportar à altura, mostrando à evidencia que alguns países que a integram não reúnem condições políticas para lá estarem.