quarta-feira, setembro 30, 2015

Vote. Seja consequente.
Partido dos Indecisos















“Não voto, mas o governo deu razões para votar contra.”

Quem diz isto é um eleitor de 63 anos, reformado, que esteve emigrado nos EUA quase 12 anos e agora regressou à sua terra natal, gozando na paz da sua aldeia, a última fase da sua vida.

Está incluído no grupo dos Indecisos porque admite que, talvez, vote no Domingo repetindo o voto que fez uma vez em anos passados, quando foi Tesoureiro da Junta de Freguesia e fazia parte da Mesa de Voto.

Esta falta de lógica e de pragmatismo de alguns cidadãos assusta-me e só não me irrita porque nesta fase da minha vida, já me apercebi da enorme complexidade do cérebro humano.

Se, na natureza, a linha mais curta entre dois pontos é uma curva, como ensinou Einstein, na cabecinha dos humanos será uma curva seguida de contra-curvas:

- “O governo deu-me razões para eu votar contra... – neste momento acontece a curva e remata: - “mas não voto”.

A menos que ele esteja indeciso entre votar e não votar e só diz o que diz para se demarcar de um sistema eleitoral de que é crítico, mas quando chegar o momento mune-se do seu Cartão de Eleitor e vai depositar o voto na urna, ou então não é consequente consigo próprio porque diz que “o governo lhe deu motivos para votar contra” mas, depois, não vota contra.

Um país onde as pessoas, em assuntos de responsabilidade, afirmam ter razões para fazer uma coisa e depois não fazem coisa nenhuma, é um país de futuro incerto, imprevisível, em que a democracia, estando já reduzida a tão pouco, para além do acto de votar, torna-se um desperdício.

O Sr. António Filipe, de 63 anos, técnico de informática, reformado, dos lados do Fundão, recorda-se com certeza, porque nasceu em 52 e tinha já 22 anos a quando da Revolução dos Cravos, que a liberdade lhe estava vedada e o voto era uma farsa por causa de uma PIDE e uma Censura.

Em 2015, 41 anos depois do 25 de Abril, o Sr. António Filipe diz algo que teria feito a delícia dos ouvidos dos Srs. Inspectores da PIDE: “o governo deu-me motivos para eu votar contra ele mas eu não votarei” e na lista dos cidadãos suspeitos o Sr, Inspector escreveria: “inofensivo” ou “conformado”.

Felizmente, o Sr. António Filipe, na parte final da entrevista, declara:

- “Ainda não decidi se vou votar, mas muito provavelmente irei, porque este governo tem-me dado muitas razões para votar contra ele, uma coisa que nunca me tinha acontecido. Nunca vi isto tão mau como está hoje, principalmente as mentiras que dizem. A única maneira de isto mudar é votar. Se as eleições fossem hoje votava.”

- Sr. António Filipe: se um homem que se diz de esquerda, que nunca viu isto tão mau, que já não pode com tantas mentiras, e não vai votar, que será deste país no futuro?...
  

Site Meter