Vote. Seja consequente. |
Partido dos Indecisos
“Não voto, mas o
governo deu razões para votar contra.”
Quem diz isto é um
eleitor de 63 anos, reformado, que esteve emigrado nos EUA quase 12 anos e
agora regressou à sua terra natal, gozando na paz da sua aldeia, a última fase
da sua vida.
Está incluído no
grupo dos Indecisos porque admite que, talvez, vote no Domingo repetindo o voto
que fez uma vez em anos passados, quando foi Tesoureiro da Junta de Freguesia e
fazia parte da Mesa de Voto.
Esta falta de lógica
e de pragmatismo de alguns cidadãos assusta-me e só não me irrita porque nesta
fase da minha vida, já me apercebi da enorme complexidade do cérebro humano.
Se, na natureza, a
linha mais curta entre dois pontos é uma curva, como ensinou Einstein, na
cabecinha dos humanos será uma curva seguida de contra-curvas:
- “O governo deu-me
razões para eu votar contra... – neste momento acontece a curva e remata: - “mas não
voto”.
A menos que ele
esteja indeciso entre votar e não votar e só diz o que diz para se demarcar de
um sistema eleitoral de que é crítico, mas quando chegar o momento mune-se do
seu Cartão de Eleitor e vai depositar o voto na urna, ou então não é consequente consigo próprio porque diz que “o governo lhe deu motivos para votar contra”
mas, depois, não vota contra.
Um país onde as
pessoas, em assuntos de responsabilidade, afirmam ter razões para fazer uma
coisa e depois não fazem coisa nenhuma, é um país de futuro incerto, imprevisível,
em que a democracia, estando já reduzida a tão pouco, para além do acto de
votar, torna-se um desperdício.
O Sr. António Filipe,
de 63 anos, técnico de informática, reformado, dos lados do Fundão, recorda-se
com certeza, porque nasceu em 52 e tinha já 22 anos a quando da Revolução dos
Cravos, que a liberdade lhe estava vedada e o voto era uma farsa por causa de uma PIDE e
uma Censura.
Em 2015, 41 anos
depois do 25 de Abril, o Sr. António Filipe diz algo que teria feito a delícia
dos ouvidos dos Srs. Inspectores da PIDE: “o governo deu-me motivos para eu
votar contra ele mas eu não votarei” e na lista dos cidadãos suspeitos o Sr,
Inspector escreveria: “inofensivo” ou “conformado”.
Felizmente, o Sr. António
Filipe, na parte final da entrevista, declara:
- “Ainda não decidi
se vou votar, mas muito provavelmente irei, porque este governo tem-me dado
muitas razões para votar contra ele, uma coisa que nunca me tinha acontecido. Nunca
vi isto tão mau como está hoje, principalmente as mentiras que dizem. A única maneira de
isto mudar é votar. Se as eleições fossem hoje votava.”
- Sr. António Filipe:
se um homem que se diz de esquerda, que nunca viu isto tão mau, que já não pode
com tantas mentiras, e não vai votar, que será deste país no futuro?...
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