Nas fazendas contava-se uma mulher para dez homens |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 349
Noiva digna de usar grinalda e véu, apontava-se
uma única: a menina Chica, de namoro firme com Balbino. Vivia em casa dos pais
enquanto as demais candidatas a receber a bênção nupcial eram todas elas
amigadas, algumas com filhos.
A própria Chica, apesar de moderninha e de
continuar no lar paterno, quem se disporia a botar a mão no fogo por sua
virgindade?
Chica deixava-se ver em companhia de
Balbino nos esconsos do rio, nas clareiras da mata, se ainda conservasse os
tampos, de duas, uma: ou bem Balbino era broxa ou ocorrera milagre.
Fosse como fosse, sia Leocádia veio em
pessoa encomendar o vestido de noiva da neta e explicou a dona Natalina que o
desejava à moda sergipana, com todos os apetrechos e atavios de donzela.
As outras não pediram tanto,
contentavam-se com trajes simples, não queriam casar cobertas com trapos
velhos.
Cleide, também neta de sia Leocádia, prima
de Chica, estava de bucho cheio; encomendou um vestido azul da cor do seu
cordão de pastoras no reisado, o azul da Virgem Imaculada.
Já que se fala nas netas de sia Leocádia e
se citou o reisado, registre-se ainda no rol das casamenteiras à espera da Santa
Missão a moça Aracati, que figurara a Senhorita Dona Deusa no desfile.
Para surpresa dos parentes, inclusive da avó
atenta, logo depois do triunfo na noite de Reis, apareceu em casa de braço dado
com Guido, dizendo que iam morar juntos.
Haviam os estancianos concorrido com três prenhas
na estação dos partos, colaboravam com três noivas na safra dos casamentos.
Amigadas antigas também ordenaram vestidos
a dona Natalina ou os costuraram em casa. Abigail trouxe o seu de Taquaras, onde ela
e Bastião da Rosa estavam vivendo desde a enchente: os frades iriam até lá mas
ela queria se casar em
Tocaia Grande , ao mesmo tempo que Isaura, sua irmã: festança
em casa de Zé dos Santos e sia Clara.
Das fazendas chegaram casais em
quantidade, não era sempre que uma Santa Missão aparecia nas bandas do rio das
Cobras.
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Não menos afobados estavam os pais das
crianças à espera de batismo. Cerca de uma dezena de pagãos aguardavam em Tocaia Grande a
oportunidade de se fazerem católicos romanos, escapando do limbo se morressem
infantes, do inferno se chegassem a adultos.
Houve uma animação de compadrio, a escolha dos
padrinhos gerava discussões e risos. Zilda mandou um recado para Bernarda:
escolhesse os padrinhos para Nado pois o menino seria batizado na passagem da
Santa Missão.
No leito com Natário, Bernarda trouxe o
assunto à baila:
- Padrinho já pensou em alguém? - Descansava
a cabeça no peito do Capitão, ele lhe tocava os cabelos desnastros.
- Se tu quer, nós faz assim: eu escolho o
padrinho, tu a madrinha.
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