Prof. Alexandre Quintanilha |
Obrigado, Prof.
Quintanilha
Segunda-feira, entre o painel dos
entrevistados no Programa Prós e Contra, da RTP1, esteve presente um personagem
diferente, um independente, representando o PS como deputado na Assembleia da
República, o Prof. Alexandre Quintanilha, cientista, biólogo da área da botânica,
de renome internacional, nascido na antiga Lourenço Marques, filho de um
português e de uma alemã.
É licenciado em Física Teórica e
doutorado em Física do Estado Sólido, numa Universidade da África do Sul e tem
uma longa actividade académica nos E.U.A, e enormes contributos nos ramos do
conhecimento da Biologia e Ambiente, com perto de cem artigos publicados em
Revistas científicas de nível mundial, tendo sido distinguido como Grande Oficial da
Ordem Militar de Sant´lago e Espada.
Tem dentro de si o bichinho da política,
ou do social, tendo desfilado em marchas contra a Apartheid na África do Sul e
contra a guerra do Vietname nos EUA, o que lhe custou umas boas cacetadas.
Reformou-se e decidiu aceitar o convite
de António Costa para encabeçar a lista do PS às legislativas no Porto e ontem,
pela sua independência, formação académica, cultura e experiência do mundo, foi
uma voz dissonante nas suas intervenções.
“Estou na política para ouvir
e aprender” mas ali, se alguém podia ensinar alguma coisa, era
ele.
Descomprometido, era o único que não
estava ao serviço dos interesses de um partido político e por isso as suas
afirmações saíam livres, ditadas por outro tipo de preocupações.
“Nós temos que falar e
debater as questões que interessam ao país como o ensino, a ciência, a saúde,
etc..., e o que tenho ouvido é uma discussão sempre ligada à mesma coisa: - Nós
ganhamos as eleições e por isso temos direito a governar o país a contrastar
com: nós temos a possibilidade de estabelecer um programa de governo com apoio maioritário
dos deputados eleitos na Assembleia da República e, por isso, somos aqueles que
podemos oferecer ao país um governo com estabilidade.”
À volta desta discussão são
levantadas tantas dúvidas, fazem-se tantas e graves acusações, colocam-se-se
tantas objecções, perigos, medos e receios, que parecem, às vezes, discussões
de meninos crescidos.
“António Costa tem fome e
sede de poder e quer transformar uma derrota eleitoral em vitória, apoiando-se
nos comunistas numa aliança contra-natura.” - dizem os do Passos Coelho.
“O poder reside na Assembleia
da República e governa o país o líder aquele partido que se entenda com outros
para um programa de governo e obtenha o apoio maioritário dos deputados
eleitos.” - respondem os do António Costa
O Prof. Quintanilha não vê
nesta discussão um drama. Assistiu a coisas muito mais acaloradas nos países
por onde andou, na Inglaterra, na África do Sul, nos Estados Unidos.
O desenrolar dos
acontecimentos vai trazer a solução porque, em democracia, basta deixar que as
regras funcionem.
O PSD, de Passos Coelho, que
acusa António Costa de ter fome e sede de poder não receia, com certeza, que
ele vá matar essa fome e sede nem a tiro, nem à baioneta, e se uns têm fome e
sede de poder, os outros não estarão agarrados a ele como a lapa se agarra à
rocha?
- Não será, qualquer uma destas acusações,
igualmente possível de fazer? – E não é para lutar pelo poder que os partidos
políticos existem em democracia?
- Estará alguém convencido
de que, um voto que fosse, um apenas, não foi para ele, Passos Coelho, mas
antes para o programa de governo da sua Coligação com o CDS?
O espectro eleitoral em
Portugal tem cinco partidos. Dois deles apresentaram-se coligados para
maximizarem o seu poder de voto, e essa coligação, que tinha governado o país
durante mais de 4 anos com maioria absoluta, teve, desta vez, uma vitória
minoritária.
Como, por tradição, costume
e razões históricas, os partidos da extrema-esquerda, PCP e BE, nunca tinham
contado para governar ou apoiar governos, Passos Coelho e Paulo Portas puderam,
na noite das eleições, cantar vitória.
Iam continuar no poder ainda
que mitigado pelo PS. Do mal, o menos.
Compreende-se, pois, a
desilusão que vai no espírito de todas aquelas pessoas para quem a política são
cargos e empregos que se obtêm na sombra dos governos que apoiam e estão no
poder e que ficam em risco logo que o poder muda de mão.
Centenas de nomeações para
cargos intermédios, durante o período de campanha, diz bem o que é este drama...
Pelo meio, temos um
Presidente da República que é nitidamente de facção, sempre foi um
anti-comunista primário, que agora, em fim de mandato, pode ser uma ameaça à
estabilidade do país.
Pode, mas eu creio que não
terá coragem para isso, veremos...
Temos no entanto, consciência
de que o PS está a tentar uma solução, que sendo salutar e enriquecedora do
ponto de vista da democracia, é também de uma enorme exigência e rigor, pois
para ser bem sucedida tem que, por um lado, satisfazer algumas reivindicações
de carácter social, justas, mas que custam dinheiro e, por outro lado,
continuar a satisfazer os compromissos financeiros com Bruxelas e os credores
para que a credibilidade do país não seja posta em causa, o que é difícil mas não
é a quadratura do círculo.
Distribuir riqueza é uma
questão polémica mas muito mais fácil do que criá-la, como nos recordava hoje
um economista, Dr. Eduardo Catroga, administrador de empresas, que ganha 40.000
euros por mês...
Percebo que uma grande parte
dos simpatizantes, apoiantes e votantes de António Costa, estejam apreensivos e
receosos pois, em toda a vida democrática do país, desde 1975, é a primeira vez
que esta experiência tem lugar.
Pessoas novas que até aqui só tinham vozes de protesto, vão agora poder dar
o seu contributo activo para o governo do país.
Finalmente, uma lufada de ar
fresco que entra por uma janela aberta por António Costa. Para o bem ou para o
mal ele vai, por isso, ficar na história do Partido Socialista mas, pela
coragem, já lá está, e não o acusem de falta de ética política porque, qualquer
solução negociada no quadro de uma Assembleia de deputados, livre e
democraticamente eleitos, só sofrerá de falta de ética para aqueles que não
gostem dela.
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