segunda-feira, novembro 16, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 110
                                



















Chamoa soube que, a partir daquela hora, o seu destino estava traçado. Os pais tinham decidido casá-la com Paio Soares e, embora a possibilidade de encontros furtivos com o príncipe estivesse aberta, com a bênção deles, ao longo da noite a sua dor persistiu e voltou a uivar, o que levaria alguns populares de Viseu a baptizarem-na de Loba, em homenagem àqueles sons e aos rumores que corriam sobre a tarde passada com o príncipe.

A seu lado e até a madrugada nascer, só ficou a minha Maria Gomes, de rosário na mão, dividida entre a piedade que sentia pela irmã e a clara noção da sua própria sorte.

“Pobre Chamoa. Eu, pelo menos, amo o Lourenço.” Era assim que pensava minha mulher, e tinha razão em fazê-lo. Trair um amor tão intenso é sempre muito perigoso, como o futuro se encarregou de mostrar.




Viseu, Domingo de Páscoa, Abril de 1126



O meu melhor amigo contou-me que, na véspera destes acontecimentos, ao final da tarde, se dirigira a casa da mãe e haviam conversado em segredo. Ele revelara o encontro com Chamoa e o desejo de casarem.

Ainda desiludida com o amuo de Paio Soares (e também do teimoso deste sobre a relíquia) Dona Teresa estava relutante em dar-lhe mais benesses, e o príncipe defendera que, sem provas da sua lealdade, era prematuro encontrar-lhe esposa.

Dias depois, quando falamos sobre isto, viríamos a concluir que a rainha enganou o próprio filho. Aterrara-se quando Afonso Henriques justificou o casamento com Chamoa como a verdadeira união de Galiza com Portugal.

Mas, naquele momento der rara concordância e até com um vislumbre de afeto, a ardilosa mãe prometera adiar o anúncio do casamento de Paio Soares, enquanto o filho adiava a declaração pública de amor a Chamoa, para não ofender o rico homem da Maia.

O encontro de sábado terminara assim, cordial e respeitoso mas o anúncio de Domingo de Páscoa revelara-se uma violenta negação desse acordo.

Sem sequer avisar o filho, Dona Teresa praticara o oposto do que prometera um dia antes! A fúria do príncipe, contida no início, crescera como uma tempestade destemperada, enquanto se refugiara o resto da tarde, silencioso e solitário, no seu quarto, ouvindo ao longe os uivos da sua amada.

Quando a noite caiu sobre Viseu, vi-o atravessar o pátio em passadas largas e entrar pela casa de Dona Teresa, subindo aos seus aposentos.                

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