(Domingos Amaral)
Episódio Nº 114
- Não era boa ideia,
explicou, amanhã seria procurado como ladrão. Curiosa, Elvira questionou-o:
- Por que quereis fugir?
Num arremesso de honestidade
só possível perante estranhos, Ramiro contou-lhe a verdade. A normanda
suspirou, desalentada.
- Quem me dera ir convosco
mas eles só levam homens.
Intrigado, Ramiro,
perguntou-lhe se estava enamorada de alguém, mas ela apenas encolheu os ombros.
- Ninguém me quer.
Depois, como se não qui sesse falar mais sobre ela, disse ao rapaz que
corresse, pois era possível que os homens de Gondomar ainda estivessem perto, e
ele assim fez.
Lançou-se na estrada fora,
passou pela estalagem e prosseguiu durante mais de uma légua. Quando estava
quase a desistir viu à sua frente uns vultos.
O som dos seus apressados
passos avisou-os e viu-os a pararem à sua frente, temendo talvez um assalto. À
medida que se aproximava, Ramiro contou quatro cavalos, mas só Gondomar estava
sozinho no seu.
Os outros seis homens
formavam duplas nos três cavalos restantes. Ouviu o velho do manto branco
perguntar:
- Quem vem lá?
Ramiro apresentou-se como
filho bastardo de Paio Soares, dizendo que desejava juntar-se a eles.
Intrigado, Gondomar questionou-se:
- Vosso pai conhece essa vontade?
O rapaz pensou em mentir mas
decidiu não o fazer.
- Sou bastardo, trata-me como um cão ou uma
besta de carga.
Houve alguns sorrisos entre
os homens, mas Gondomar recordou:
- Paio Soares é o novo mordomo - mor do
Condado. Lembro-me de o ouvir dizer que precisava de vós. Não quero problemas,
regressai a Viseu. Se ele vos deixar podereis ir ter connosco.
Contrariado, Ramiro mordeu o
lábio.
Só precisa de mim para me
bater.
Gondomar não se comoveu com
o queixume.
- Isso é entre vós.
Dito isto, rodou o cavalo e
os outros seguiram-no. O rapaz ficou a vê-los afastarem-se, desanimado, mas
quando eles desapareceram no escuro decidiu continuar a segui-los.
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