(Domingos Amaral)
Episódio Nº 121
Coimbra, Maio de 1126
As notícias correm depressa,
mesmo entre regiões cristãs e mouras, e Zaida contou-me que um mês depois da
Páscoa, elas foram informadas de que Taxfin fora morto no castelo da serra
Morena.
Foi na mesma tarde que a mãe
lhes explicou porque não fora a Ricobayo. As coisas pareciam todas ligadas umas
às outras, no passado, no presente e no futuro, era o que eu estava a concluir,
nesta fase de investigação.
Havia razões para tudo. Há
sempre.
Ainda em Viseu, Zulmira
pedira à rainha para regressar a Coimbra em vez de a acompanhar à vassalagem de
Afonso VII, que decorreria na povoação de Ricobayo, próxima de Zamora.
As filhas haviam estranhado,
era a segunda vez que a mãe inventava uma oportuna doença. Um ano antes da
visita a Astorga e Sahagun, queixara-se de um misterioso mau estar e abandonara
a comitiva que seguia para Toledo.
Contudo, só quando chegou a
Coimbra é que Zulmira saciara a curiosidade das filhas.
Em Ricobayo estaria gente do
tempo do imperador Afonso VI. Tal como em Toledo, no ano passado. Gente que se
lembra de mim há muitos anos.
Convidou-as a sentarem-se na
sua cama, e recuou várias décadas, à época em que Afonso VI , avô de Afonso
Henriques e do agora Afonso VII, era o imperador de Leão, Castela e Galiza, e
dominava as taifas de Sevilha, Badajoz e Mérida, obrigando vários reis
mouriscos a pagarem-lhe chorudos tributos.
Um desses era Al-Mutamid,
rei de Sevilha. Embora mais dado à poesia do que à guerra, e mais entusiasta de
rapazes do que de mulheres, Al-Mutamid casar e tivera uma única filha, chamada
Zaida, que mais tarde obrigara a desposar o wali
de Córdova, Ismail Ibn-Abbad para poder anexar essa cidade a sua Sevilha.
Da união forçada entre Zaida
e Ismail nascera Zulmira. Quando esta tinha treze anos, furioso com as
submissões dos reis árabes ao imperador cristão, o califa Yusuf decidiu atacar
Sevilha.
Assustado, o rei poeta
Al-Mutamid, ordenou ao seu genro Ismail que pedisse ajuda a Afonso VI. Não
podendo abandonar Córdova, cujo cerco estava próximo, Ismail enviou a Toledo
sua esposa, Zaida.
Acompanhei minha mãe nessa
embaixada – recordou Zulmira.
Pouco depois de partirem, a
tragédia abateu-se sobre Córdova. A tomada da velha capital do califado foi uma
carnificina sem nome, as tropas de Ismail foram dizimadas pelos sanguinários
algozes de Yusuf, e as ruas tingiram-se de vermelho, com o sangue dos
cordovezes derrotados.
- O último a morrer foi meu
pai, Ismail, o governador de Códova. Quando a notícia chegou a Toledo, tínhamos
acabado de nos instalar.
Zulmira, que muito amava o
pai, ficou destroçada. Porém, sua mãe Zaida, não perdeu tempo e pediu uma
audiência ao Imperador.
Nesse dia, algo de espantoso
aconteceu – murmurou Zulmira.
Afonso VI tinha um talento
especial para seduzir mulheres e comoveu-se com a solidão de Zaida, que julgava
uma viúva sofrida.
Com quase cinquenta anos, o
imperador já se casara três vezes, tinha várias filhas, entre as quais Dona
Urraca e Dona Teresa, mas nunca gerara varão.
Encantado com aquela bela
princesa moura, converteu-a e, algum tempo depois engravidou-a!
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