Construíram uma cidade, Albufeira, no Algarve, sobre o leito de uma ribeira que corria para o mar, que estando ali tão pertinho, nem fazia sentido que corresse para outro lado.
É estranho que assim tenha
sido mas acontece com os urbanistas portugueses. Talvez, porque eles não
existiam, e aproveitava-se a circunstância de termos grandes chuvadas só lá de
quando em vez, ou tínhamos, para se cometer a imprudência de colocar ruas e
casas onde mais jeito lhes dava.
O resultado foi este que
aconteceu agora em Albufeira, cidade turística algarvia por excelência.
Felizmente, que é uma cheia
centenária, só voltará a repetir-se daqui
a um século, dizem os entendidos, e isso deve deixar-nos descansados... mas o
tempo já não é o que era e quem sabe se não vamos ter que esperar menos anos.
À cautela, vai elaborar-se um “plano
de prevenção de cheias” porque é impensável tirar-se Albufeira de onde ela está
e agora só resta é minimizar os efeitos.
Aproveitando a ocasião, um
senhor recém investido como Ministro deste novo governo, que não sabemos se lá
vai estar, apenas, curtas semanas ou vastos meses, foi ao local mostrar-se ao
país porque os sítios onde acontecem catástrofe são, garantidamente, os melhores para serem
visitados por ministros.
Parece fácil, nestas circunstâncias,
um ministro dizer umas coisas, mais ou menos consensuais e sai de cena, de
regresso ao seu gabinete, sem grandes comentários.
Contudo, este ministro recém
empossado, de seu nome Calvão e Silva, suportou estoicamente afundar na lama os
seus lustrosos sapatos, para levar uma palavra de conforto às vítimas daquela
catástrofe.
E fê-lo com a alma impregnada
de fé ainda do Antigo Testamento, referindo, não os futuros planos para
acautelar os prejuízos de eventuais novas cheias, mas antes a “fúria demoníaca
da natureza” de um “Deus que nem sempre é amigo”.
Perante esta inconstância de
um Deus que uma vezes é amigo e outras não tanto, como foi o caso desta vez em
Albufeira, o melhor é mesmo fazer seguros para nos ressarcirmos dos prejuízos e
este foi o conselho que deixou como lição do castigo com que Deus presenteou as
vítimas desta calamidade.
Calvão e Silva regressou feliz
a Lisboa. Tinha falado de um Deus que sofria de “estados de espírito” que uma
vezes lhe dava para ser “amigo” e outras não.
E que podemos nós fazer contra
estados de espírito de Deus? – Nada, talvez rezar, mas ele não falou nisso.
O que o ministro recomendou mesmo foi seguros.
É uma simples coincidência que este senhor ministro tenha sido, como advogado, o autor de um parecer jurídico que defendeu que os 14 milhões de euros dados por um construtor civil, José Guilherme, a Ricardo Salgado, tenha sido um simples presente dado “ao amigo de longa data” e que “O espírito de entreajuda e solidariedade” é um princípio geral de uma sociedade e Calvão da Silva considera que “é natural, pois, que um amigo possa e tenha gosto em dar sugestões, conselho ou informações a outro amigo", sendo que "não é a circunstância de ser administrador ou presidente executivo de um banco que o priva dessa liberdade fundamental”.
O que o ministro recomendou mesmo foi seguros.
É uma simples coincidência que este senhor ministro tenha sido, como advogado, o autor de um parecer jurídico que defendeu que os 14 milhões de euros dados por um construtor civil, José Guilherme, a Ricardo Salgado, tenha sido um simples presente dado “ao amigo de longa data” e que “O espírito de entreajuda e solidariedade” é um princípio geral de uma sociedade e Calvão da Silva considera que “é natural, pois, que um amigo possa e tenha gosto em dar sugestões, conselho ou informações a outro amigo", sendo que "não é a circunstância de ser administrador ou presidente executivo de um banco que o priva dessa liberdade fundamental”.
E se alguém
decide dar dinheiro de presente (liberalidade) em reconhecimento desse conselho, como José Guilherme deu a Ricardo Salgado, isso não põe em
causa a idoneidade de quem recebe”.
Como fica
bem patente pela transcrição deste douto parecer, há muito que Calvão e Silva,
que em boa hora foi investido em funções de ministro, vive este espírito judaico/cristão
em que Deus
tanto aprova uma prenda de 14 milhões àquele que era o “dono disto tudo”,
como depois despeja toneladas de chuva sobre os “desgraçados” de Albufeira,
inundando-lhes as ruas e as casas porque, nesse dia, não se sente “amigo”.
Que perda
se este homem não tivesse ido a ministro!
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