quarta-feira, novembro 04, 2015

       Vá de retro Satanás....
Inundações em 

Albufeira















Construíram uma cidade, Albufeira, no Algarve, sobre o leito de uma ribeira que corria para o mar, que estando ali tão pertinho, nem fazia sentido que corresse para outro lado.

É estranho que assim tenha sido mas acontece com os urbanistas portugueses. Talvez, porque eles não existiam, e aproveitava-se a circunstância de termos grandes chuvadas só lá de quando em vez, ou tínhamos, para se cometer a imprudência de colocar ruas e casas onde mais jeito lhes dava.

O resultado foi este que aconteceu agora em Albufeira, cidade turística algarvia por excelência.

Felizmente, que é uma cheia centenária, só voltará a repetir-se daqui a um século, dizem os entendidos, e isso deve deixar-nos descansados... mas o tempo já não é o que era e quem sabe se não vamos ter que esperar menos anos.

À cautela, vai elaborar-se um “plano de prevenção de cheias” porque é impensável tirar-se Albufeira de onde ela está e agora só resta é minimizar os efeitos.

Aproveitando a ocasião, um senhor recém investido como Ministro deste novo governo, que não sabemos se lá vai estar, apenas, curtas semanas ou vastos meses, foi ao local mostrar-se ao país porque os sítios onde acontecem catástrofe são, garantidamente, os melhores para serem visitados por ministros.

Parece fácil, nestas circunstâncias, um ministro dizer umas coisas, mais ou menos consensuais e sai de cena, de regresso ao seu gabinete, sem grandes comentários.

Contudo, este ministro recém empossado, de seu nome Calvão e Silva, suportou estoicamente afundar na lama os seus lustrosos sapatos, para levar uma palavra de conforto às vítimas daquela catástrofe.

E fê-lo com a alma impregnada de fé ainda do Antigo Testamento, referindo, não os futuros planos para acautelar os prejuízos de eventuais novas cheias, mas antes a “fúria demoníaca da natureza” de um “Deus que nem sempre é amigo”.

Perante esta inconstância de um Deus que uma vezes é amigo e outras não tanto, como foi o caso desta vez em Albufeira, o melhor é mesmo fazer seguros para nos ressarcirmos dos prejuízos e este foi o conselho que deixou como lição do castigo com que Deus presenteou as vítimas desta calamidade.

Calvão e Silva regressou feliz a Lisboa. Tinha falado de um Deus que sofria de “estados de espírito” que uma vezes lhe dava para ser “amigo” e outras não.

E que podemos nós fazer contra estados de espírito de Deus? – Nada, talvez rezar, mas ele não falou nisso. 

O que o ministro recomendou mesmo foi seguros.




É uma simples coincidência que este senhor ministro tenha sido, como advogado, o autor de um parecer jurídico que defendeu que os 14 milhões de euros dados por um construtor civil, José Guilherme, a Ricardo Salgado, tenha sido um simples presente dado “ao amigo de longa data” e que “O espírito de entreajuda e solidariedade” é um princípio geral de uma sociedade e Calvão da Silva considera que “é natural, pois, que um amigo possa e tenha gosto em dar sugestões, conselho ou informações a outro amigo", sendo que "não é a circunstância de ser administrador ou presidente executivo de um banco que o priva dessa liberdade fundamental”.

E se alguém decide dar dinheiro de presente (liberalidade) em reconhecimento desse conselho, como José Guilherme deu a Ricardo Salgado, isso não põe em causa a idoneidade de quem recebe”.

Como fica bem patente pela transcrição deste douto parecer, há muito que Calvão e Silva, que em boa hora foi investido em funções de ministro, vive este espírito judaico/cristão em que Deus tanto aprova uma prenda de 14 milhões àquele que era o “dono disto tudo”, como depois despeja toneladas de chuva sobre os “desgraçados” de Albufeira, inundando-lhes as ruas e as casas porque, nesse dia, não se sente “amigo”.

Que perda se este homem não tivesse ido a ministro!

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