Eu fui para a guerra de Angola em 1962 por um terrível equívoco que foi criado no espírito dos portugueses pelo regime político de então e no qual quase todos acreditaram piamente:
- Que os territórios debaixo do domínio português em África eram"províncias ultramarinas, tais como o Minho ou o Alentejo, o chamado Portugal do Minho a Timor".
Por outras palavras: "era a nossa terra que tínhamos de defender à custa que fosse das nossas vidas!"
Por outras palavras: "era a nossa terra que tínhamos de defender à custa que fosse das nossas vidas!"
Ora, a cultura, história, tradições, língua, organização social e política, desses povos, nada tinham a ver com o Portugal europeu de
onde saíram as caravelas.
Os retornados de 1975, mais de 500.000
portugueses, constituíram o desmantelar desse equívoco.
Outro equívoco, criado agora à volta do sistema
democrático português, é o de que a eleição do 1º Ministro resulta directamente
do voto dos eleitores.
Ontem, dia 10 de Novembro, na Assembleia da
República, pelas 17h15, este equívoco desfez-se no meio de pateadas, apupos e
gritos de um grupo de 107 deputados contra outro grupo de 123.
O país já esperava, estava anunciado e,
felizmente, descontados alguns lugares da Administração Pública que estavam, até
aqui , nas mãos do grupo dos 107 e
agora vão mudar, não haverá, como em 1975, nem retornados, nem suicídios de
alguns deles que não suportaram o impacto do desfazer desse equívoco.
Os equívocos são maus na vida das pessoas e
péssimos na vida dos países.
Embora tivéssemos essa sensação alimentada
pelo histórico de 40 anos de democracia, nunca os portugueses elegeram com o
seu voto o 1º Ministro, mas apenas deputados, da mesma forma que, no equívoco
anterior, os jovens negros do norte de Angola que frequentavam as escolas do
regime colonial, não eram descendentes de D. Afonso Henriques, como lhes
diziam.
Os deputados eleitos pelo voto dos
portugueses integram partidos onde os votantes, no seu boletim de voto, fazem a
respectiva cruz e, a partir daí, é apenas uma questão aritmética e de arranjos ou entendimentos desses partidos na
Assembleia os quais, por exemplo, levaram à queda de Sócrates, do partido
Socialista, também ele minoritário, quando Passos Coelho se decidiu pelo chumbo
do PEC IV, sem que houvesse, que eu me lembre, pateada, apupos e gritos no
Parlamento.
Se a Constituição qui sesse
que o 1º Ministro fosse o líder do partido mais votado tê-lo-ia dito na sua
revisão de 1982, em que essa proposta foi apresentada mas recusada.
Ultrapassado mais este equívoco importa
agora que o novo governo decida o melhor possível a favor dos portugueses que
estão perfeitamente conscientes de que a margem, em tudo o que tem a ver com
dinheiro, é muito pequena.
As políticas do governo de Passos Coelho
foram recusadas por 62% dos eleitores, resultado este que parece ter sido
esquecido pelos 38% do PAF, coligação mais votada, mas que ficou muito longe
dos 62 da reprovação.
Polémicas à parte, e elas foram muitas e
gritadas até com histerismo cuja intensidade, nos discursos, definiu o seu grau
de qualidade para os derrotados da moção de rejeição, esta é a Constituição que
temos, revista e aprovada em 1982.
Devíamos todos saber isto, especialmente os
que têm mais obrigações, os mais responsáveis.
Um terceiro equívoco que se irá desfazer, é
o que tem a ver com o “acabar com a austeridade”, que só diminuirá gradualmente com
a produção de mais riqueza pela nossa economia, e se formos capazes de a vender
por esse mundo fora, apelando a qualidades que já demonstrámos ter no passado
remoto e que estamos a provar que mantemos.
Outra coisa diferente, é distribuir essa
austeridade com mais justiça e sensibilidade social, e isso é possível, desejável e muito importante que aconteça.
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