(Domingos do Amaral)
Episódio Nº 131
Na véspera de serem
retiradas as cataratas a Gondomar, num dos seus passeios de caça madrugadores
Ramiro descobriu uma cavidade nas rochas, com uma espécie de porta de ramos de
árvores entrelaçados.
Seria a Porta do Inferno de
que falava o Velho? Ia preparar-se para investigar quando apareceu uma mulher
vestida de negro que lhe disse que não entrasse ali, pois existiam lá dentro
perigosos animais.
Depois perguntou-lhe:
- Sois dos que estão em Soure?
Ramiro confirmou que era da
Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo, que tinha vindo recuperar o castelo por
ordem de Dª Teresa.
A mulher velha murmurou:
- O marido dela queria o mesmo até ser morto
pela cunhada.
Ramiro não a compreendeu, e
acrescentou que a Ordem visava expandir a fé de Deus naquelas terras.
Ao ouvi-lo, a mulher
perguntou-lhe bruscamente:
- O Velho do manto branco já vos falou da relíqui a?
Ramiro olhou-a, espantado. A
mulher pareceu acalmar-se momentaneamente e murmurou:
- O Conde já não vem, mas os outros dois ainda
estão vivos.
Depois, como se falasse
consigo própria adiantou:
- Os mouros estão a chegar.
E cuidado com a morte que aí vem.
Olhou para sul, como se já
visse os serracenos, e declarou:
- Espero que tirem as cataratas ao vosso
mestre, ele precisa dos olhos mesmo que não saiba para onde tem de olhar.
Proferida esta enigmática frase,
a velha despediu-se de Ramiro.
O rapaz ficou a vê-la partir
e depois regressou a Soure, mas, como Gondomar estava muito receoso pelo futuro
dos seus olhos, decidiu não contar-lhe o seu estranho encontro.
De madrugada, Ramiro e o
Velho preparavam-se para tratar. Quando este acordou com o nascer do Sol olhou
com terror para o que se estava a preparar.
No interior do que restava
da torre de menagem, havia um banco encostado à parede, onde ele se deverá
sentar e no chão uma bacia com água que cheirava a rosas e outra com um líqui do amarelado.
Gondomar começou a rezar
baixinho mexendo apenas os lábios.
Quando abancou, respirou
fundo e deu a mão ao velho que o tentou tranqui lizar.
Ramiro colocou-se entre o mestre e a parede, para lhe imobilizar a cabeça com
as mãos, e o Velho fechou-lhe o olho são, cobrindo-o com uma ligadura.
Depois fez o sinal da cruz e
Gondomar e Ramiro imitaram-no. O Velho pegou então numa agulha de prata e
aproximou-a do olho com todo o cuidado, lentamente na zona branca, dirigindo-a
com muita perícia e lentidão para baixo.
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