quinta-feira, dezembro 10, 2015

Assim Nascera Portugal
(Domingos do Amaral)

Episódio Nº 131



















Na véspera de serem retiradas as cataratas a Gondomar, num dos seus passeios de caça madrugadores Ramiro descobriu uma cavidade nas rochas, com uma espécie de porta de ramos de árvores entrelaçados.

Seria a Porta do Inferno de que falava o Velho? Ia preparar-se para investigar quando apareceu uma mulher vestida de negro que lhe disse que não entrasse ali, pois existiam lá dentro perigosos animais.

Depois perguntou-lhe:

 - Sois dos que estão em Soure?

Ramiro confirmou que era da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo, que tinha vindo recuperar o castelo por ordem de Dª Teresa.

A mulher velha murmurou:

 - O marido dela queria o mesmo até ser morto pela cunhada.

Ramiro não a compreendeu, e acrescentou que a Ordem visava expandir a fé de Deus naquelas terras.

Ao ouvi-lo, a mulher perguntou-lhe bruscamente:

 - O Velho do manto branco já vos falou da relíquia?

Ramiro olhou-a, espantado. A mulher pareceu acalmar-se momentaneamente e murmurou:

 - O Conde já não vem, mas os outros dois ainda estão vivos.

Depois, como se falasse consigo própria adiantou:

- Os mouros estão a chegar. E cuidado com a morte que aí vem.

Olhou para sul, como se já visse os serracenos, e declarou:

 - Espero que tirem as cataratas ao vosso mestre, ele precisa dos olhos mesmo que não saiba para onde tem de olhar.

Proferida esta enigmática frase, a velha despediu-se de Ramiro.

O rapaz ficou a vê-la partir e depois regressou a Soure, mas, como Gondomar estava muito receoso pelo futuro dos seus olhos, decidiu não contar-lhe o seu estranho encontro.

De madrugada, Ramiro e o Velho preparavam-se para tratar. Quando este acordou com o nascer do Sol olhou com terror para o que se estava a preparar.

No interior do que restava da torre de menagem, havia um banco encostado à parede, onde ele se deverá sentar e no chão uma bacia com água que cheirava a rosas e outra com um líquido amarelado.

Gondomar começou a rezar baixinho mexendo apenas os lábios.

Quando abancou, respirou fundo e deu a mão ao velho que o tentou tranquilizar. Ramiro colocou-se entre o mestre e a parede, para lhe imobilizar a cabeça com as mãos, e o Velho fechou-lhe o olho são, cobrindo-o com uma ligadura.


Depois fez o sinal da cruz e Gondomar e Ramiro imitaram-no. O Velho pegou então numa agulha de prata e aproximou-a do olho com todo o cuidado, lentamente na zona branca, dirigindo-a com muita perícia e lentidão para baixo.                                                                                

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