O
Processo e a Substância
José
Sócrates, como político, é um predador, muito diferente de outros líderes do PS
como António Guterres ou António Costa. Com o seu estilo agressivo cultiva mais inimigos
do que adversários mas também tem os seus incondicionais.
Governou
o país durante seis anos, os últimos dois em minoria, o que lhe foi fatal pois,
falhadas as negociações do PEC 4, o país ficou sem suporte financeiro e
mergulhou rapidamente na banca-rota, troyka e na vitória fácil do desconhecido
Passos Coelho que ganhou com maioria absoluta.
Sócrates
foi-se embora, estudar para Paris e aqui
começa a sua verdadeira história.
Regressado
um ano depois, é preso ainda no aeroporto e conduzido à prisão de Évora por
suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
Um
ano depois, esgotados os prazos de prisão preventiva, é devolvido à liberdade
sem que o Ministério Público ou o Juiz de Instrução do Processo, dada a
complexidade deste, tenham ainda formulado qualquer acusação.
A
TVI, de todos os canais de televisão em Portugal, o mais mediático à custa de
programas que apelam e satisfazem o
voyarismo dos espectadores, resolveu entrevistar Sócrates durante duas
horas em dois dias seguidos.
Sócrates,
combativo, atacou o Processo, vitimizou-se, queixou-se, atacou o Ministério
Público e o Juiz de instrução, secundado pelos seus advogados que defendem o arqui vamento do Processo com um pedido de desculpas ao
ex-primeiro ministro que pode decidir-se, até, por colocar uma acção contra o próprio
Estado.
Para
trás ficaram histórias de centenas de milhar de euros que circulavam dentro
de envelopes que lhe eram entregues em mão por “falta de confiança no sistema
financeiro” – disse ele - e que solicitava,
de forma codificada, chamando ao dinheiro “fotocópias” ou “aqui lo de que eu mais gosto” entre muitos outros
nomes.
De
substância, temos uma grande amizade, fraterna, de 40 anos, com um amigo de
infância com quem passa sempre férias e que por ser muito rico lhe enviava, a
título de empréstimo, todo o dinheiro que ele pedia.
Dá-se
a coincidência deste amigo, que é muito rico, ser empresário e um dos donos de
uma grande empresa de Construção Civil, bem sucedida na sua actividade, que era desenvolvida em
simultâneo ao período em que ele é 1º Ministro.
Estas
coincidências tornam-se suspeitas aos olhos do Ministério Público que tem
dificuldade em acreditar nesta amizade tão desinteressada de um amigo que
empresta sem contrapartidas, garantias, aparentemente sem controle – Sócrates
afirmou desconhecer quanto deve ao amigo -
dinheiro em quantias muito elevadas, centenas de milhar ou milhões,
fala-se, e por isso o MP investiga, que é esse o seu papel.
O
povo assiste, sorri e também desconfia, a maior parte até já o terá condenado.
Os políticos, todos os políticos, não têm boa fama embora haja apenas 17 presos
por corrupção e muitos destes serão apenas funcionários do Estado que se
aproveitaram do exercício das suas funções, e não propriamente políticos, o que mostra "o berbicacho" que é fazer prova em Tribunal deste tipo de crimes.
Eu
interrogo-me e questiono se toda esta história com tantos contornos, entre
estes dois amigos de infância, mesmo fraternos, teria ocorrido se José
Sócrates, um desses amigos, tivesse sido apenas Chefe de Secção ou mesmo, vá
lá, de Repartição de um qualquer Ministério?
Esta
questão não interessa para o Tribunal mas eu também não sou Juiz...
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