quinta-feira, dezembro 17, 2015

José Sócrates

O Processo e a Substância















José Sócrates, como político, é um predador, muito diferente de outros líderes do PS como António Guterres ou António Costa. Com o seu estilo agressivo cultiva mais inimigos do que adversários mas também tem os seus incondicionais.

Governou o país durante seis anos, os últimos dois em minoria, o que lhe foi fatal pois, falhadas as negociações do PEC 4, o país ficou sem suporte financeiro e mergulhou rapidamente na banca-rota, troyka e na vitória fácil do desconhecido Passos Coelho que ganhou com maioria absoluta.

Sócrates foi-se embora, estudar para Paris e aqui começa a sua verdadeira história.

Regressado um ano depois, é preso ainda no aeroporto e conduzido à prisão de Évora por suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.

Um ano depois, esgotados os prazos de prisão preventiva, é devolvido à liberdade sem que o Ministério Público ou o Juiz de Instrução do Processo, dada a complexidade deste, tenham ainda formulado qualquer acusação.

A TVI, de todos os canais de televisão em Portugal, o mais mediático à custa de programas que apelam e satisfazem o   voyarismo dos espectadores, resolveu entrevistar Sócrates durante duas horas em dois dias seguidos.

Sócrates, combativo, atacou o Processo, vitimizou-se, queixou-se, atacou o Ministério Público e o Juiz de instrução, secundado pelos seus advogados que defendem o arquivamento do Processo com um pedido de desculpas ao ex-primeiro ministro que pode decidir-se, até, por colocar uma acção contra o próprio Estado.

Para trás ficaram histórias de centenas de milhar de euros que circulavam dentro de envelopes que lhe eram entregues em mão por “falta de confiança no sistema financeiro” – disse ele -  e que solicitava, de forma codificada, chamando ao dinheiro “fotocópias” ou “aquilo de que eu mais gosto” entre muitos outros nomes.

De substância, temos uma grande amizade, fraterna, de 40 anos, com um amigo de infância com quem passa sempre férias e que por ser muito rico lhe enviava, a título de empréstimo, todo o dinheiro que ele pedia.

Dá-se a coincidência deste amigo, que é muito rico, ser empresário e um dos donos de uma grande empresa de Construção Civil, bem sucedida na sua actividade, que era desenvolvida em simultâneo ao período em que ele é 1º Ministro.

Estas coincidências tornam-se suspeitas aos olhos do Ministério Público que tem dificuldade em acreditar nesta amizade tão desinteressada de um amigo que empresta sem contrapartidas, garantias, aparentemente sem controle – Sócrates afirmou desconhecer quanto deve ao amigo -  dinheiro em quantias muito elevadas, centenas de milhar ou milhões, fala-se, e por isso o MP investiga, que é esse o seu papel.

O povo assiste, sorri e também desconfia, a maior parte até já o terá condenado. Os políticos, todos os políticos, não têm boa fama embora haja apenas 17 presos por corrupção e muitos destes serão apenas funcionários do Estado que se aproveitaram do exercício das suas funções, e não propriamente políticos, o que mostra "o berbicacho" que é fazer prova em Tribunal deste tipo de crimes.

Eu interrogo-me e questiono se toda esta história com tantos contornos, entre estes dois amigos de infância, mesmo fraternos, teria ocorrido se José Sócrates, um desses amigos, tivesse sido apenas Chefe de Secção ou mesmo, vá lá, de Repartição de um qualquer Ministério?

Esta questão não interessa para o Tribunal mas eu também não sou Juiz...

Site Meter