quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)




Episódio Nº 192
  




















Naquela tarde, aquilo pareceu-nos um pormenor irrelevante. Só quando revolvemos a memória é que encontramos, com surpresa pontos no passado em que tudo era óbvio.

Quem fora o perceptor de Afonso VII? O pai do Trava! Quem era aliado de Gelmires, desde Lanhoso? O Trava! Quem doara Soure à Ordem de Gondomar? Dona Teresa, ou seja, o trava! A quem servia Paio Soares? Ao Trava!


Tui, Outubro se 1127


No regresso de Compostela dividimo-nos. Meu tio Ermígio, meu pai e eu seguimos para Guimarães, enquanto Afonso Henriques e Gonçalo rumaram a Tui.

Quando o revelei à minha Maria, ela levou as mãos à cabeça, aflitíssima e perguntou:

 - Lourenço, e se Paio Soares descobre? Se Chamoa o chifra, ele nunca mais se juntará à causa dos portucalenses!

Infelizmente já era tarde para parar o tortuoso destino que Deus traçou para todos nós.

No dia seguinte, Afonso Henriques e Gonçalo entraram pela porta da muralha de Tui. Na alcáçova, junto a uma grande casa, apareceu-lhes Gomes Nunes, que perguntou alarmado:

 - Príncipe, vamos ser outra vez invadidos por Afonso VII?

Desmontando, Afonso Henriques contou que pusera termo ao cerco de Guimarães e viajara até Compostela com o Rei poupando a região a batalhas inúteis.

Como o haveis convencido? Perguntou Gomes Nunes.

O príncipe apenas relatou um acordo pacificador, realizado para que a guerra aos sarracenos fosse bem sucedida.

- E vossa mãe, onde está? – interrogou o pai de Chamoa.

Afonso Henriques olhou em volta admirando o castelo de Tui.

 - Minha mãe e o Trava traíram-me. E a vós também.

Depois enfrentou o senhor de Tui e perguntou.

 - Estais do meu lado?

Gomes Nunes, esperto, não perdeu tempo. Olhando para trás berrou:

 - Elvira, vem beijar o nosso salvador!

A esposa, esbaforida e corada, veio oscular a mão direita do príncipe.

Valeis mais do que os meus dois irmãos! – exclamou.

Queixou-se de Fernão e de Bermudo, que a tinham deixado à mercê de um cerco de mais de três mil homens. Amargurada, balbuciou:

- Sofri de pesadelos, nos meus sonhos vi Tui a arder!

Afonso Henriques acalmou-a, dizendo que o rei não voltaria ali, e logo Gomes Nunes prometeu ceder uma centena de homens que marchariam, quando necessário, para Guimarães.

- Irei à frente das minhas tropas, leal ao meu paladino!

Afonso Henriques sorriu-lhe, contente Elvira, desejosa de agradar, perguntou:

- Quereis pernoitar em Tui? Podeis cear por cá!

De repente, fingindo-se atrapalhada, levou a mão à testa:

- Ora que cabeça a minha! Sei bem o que desejais!

Dando meia volta entrou na habitação, enquanto o marido os convidava a fazer o mesmo. Um pouco atrás, Gonçalo comentou:


 - Ouvi dizer que as mouras de Córdova estão por cá.

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