(Domingos Amaral)
Episódio Nº 194
Gonçalo, fingindo-se ofendido, fez
beicinho.
- «Egas, mas fui eu que convenci o rei!
Quero ir a Compostela com ele, mas é só para rezar por vós e por vossos filhos!»
Todos aplaudiram aquele teatro e Zulmira
aplaudiu Gonçalo:
-
És melhor do que muitos bobos!
Este bebeu mais vinho e avisou:
-
Se não tivesse na presença de várias damas, imitava para vós Dona Teresa e o
Trava, nas suas acaloradas manhãs!
Enquanto as mulheres se riam Gomes Nunes
aproveitou a deixa e perguntou a Afonso Henriques se ia mesmo guerrear a mãe e
o Trava.
Todos se calaram, except o Fátima, que resmungou:
-
Que se matem uns aos outros, menos cristãos ficam.
O príncipe intrigado mirou Zulmira e
interrogou-a:
- É
verdade que Soure foi atacada por vossa causa?
Aflita a mãe moura abanou a cabeça negando
tal versão, e relembrou:
-
Ataques desses são habituais há dezenas de anos.
Incomodada com conversas bélicas que a
assustavam, Elvira deu por terminada a ceia, impondo o recolher a todos.
Fátima e Zulmira despediram-se tal como os
senhores de Tui depois de destinarem aos portucalenses quartos no piso superior
da casa.
Porém, sem levantar o rabo do banco,
Gonçalo agarrou Zaida e obrigou-a a permanecer sentada, perguntando-lhe:
- É
verdade que vos banhais nuas no rio?
Chamoa riu-se, divertida, e Zaida
respondeu:
-
Em Córdova as mulheres vivem em haréns. Estamos habituadas a banharmo-nos e a
dormir juntas!
Gonçalo esbugalhou os olhos:
-
Na mesma cama?
Sorridente, a rapariga informou-o:
-
Eu durmo com minha mãe, a Fátima tem uma cama só para ela.
No seu lugar, Chamoa confessou:
-
Em certos dias, quando estou muito agitada, adormecem-me a contar histórias
sobre a serra Morena.
Afonso Henriques franziu o sobrolho, mas
ela antecipou-se:
-
Por que pensais logo em coisas impróprias? É bom ter companhia. Estou muito
sozinha, minha irmã foi viver para Guimarães e meu marido só passa por cá de
quando em vez.
Se não fossem Zulmira e Zaida viveria
triste e só.
Enquanto Zaida sorria misteriosamente, o
príncipe pediu a Chamoa que o acompanhasse até ao alpendre.
Depois de eles saírem, Gonçalo,
encostou-se à mais nova das mouras e disse-lhe ao ouvido:
-
Estou enamorado de vós.
A rapariga riu-se, agradada, mas logo
respondeu:
- Sois
um atrevido. Deveis dizer isso a todas!
Gonçalo empertigou-se, fingindo-se posto
em causa:
- Sois a única moura que me encanta!
Colocando a cabeça no ombro dela, implorou
baixinho:
- Não me tortureis mais...
Intrigada, Zaida perguntou:
-
Que desejais, não me posso casar convosco:
Gonçalo encolheu os ombros e sussurou:
- Bastava-me uma noite. Ficai comigo, bela
Zaida até o sol nascer.
A rapariga fez-lhe umas festas carinhosas
no cabelo, e depois beijou-o levemente na boca.
Gonçalo
animou-se e abraçou-a, mas de repente ouviram-se passos, e Zaida
afastou-se dizendo:
- É
minha mãe, vem chamar-me!
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