(Domingos Amaral)
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Episódio Nº 193
Já dentro de casa Gomes Nunes elucidou-o:
- É
verdade! A mãe e a Zaida são amáveis, mas a Fátima é do pioriu! Uma rezingona!
Nisto, entrou na sala Chamoa e o príncipe
deslumbrou-se.
A rapariga acabara de fazer dezoito anos,
e sem ter perdido a frescura que sempre irradiara mostrava já a confiança e a
postura de uma mulher adulta.
Os seus cabelos estavam mais longos,
caídos pelas costas e os seus olhos verdes brilhavam de alegria, enquanto no
rosto se abria um sorriso radioso.
Príncipe, que bom ver-vos, morri de
saudades – exclamou.
Abraçaram-se e assim ficaram uns momentos.
Depois Chamoa cumprimentou Gonçalo tendo este perguntado.
-
Não me abraçais também?
Todos se riram e Chamoa abraçou-o,
enquanto as três mouras apareciam, acompanhadas por Elvira.
Gonçalo desviou de imediato a vista para
Zaida e questionou-a:
-
Preparada para rumar a Córdova onde nos casaremos?
A rapariga riu-se com aquela recordação de
Viseu, mas logo a irmã Fátima respigou:
-
Mal entrásseis na cidade, encontravam-vos como um porco!
Forçando uma careta de medo, Gonçalo
exclamou:
-
Livra, então mais vale irmos para Braga!
No meio das gargalhadas gerais, avisou que
estava esfomeado e esperava que Elvira o brindasse com os seus célebres
ensopados de cabrito, as enguias de escabeche e as viandas de leite!
Deveras agradada com tantos elogios às
suas artes culinárias, Elvira ordenou que as criadas preparassem a mesa.
Durante o repasto, Afonso Henriques
sentou-se ao lado de Chamoa, e Gonçalo junto de Zaida. Animado com a ajuda do
vinho galego, o amigo do príncipe decidiu imitar os ditos de Afonso VII em
Compostela, para Gáudio dos presentes.
- «Deus me perdoe mas desejei tantas vezes
a morte de minha mãe»!
Exagerou mais a Creta e carregou na voz:
-
«O que lhes corre nas veias, vinho?»
Alguns dos presentes já estavam de lágrimas
nos olhos q1uando Gonçalo os surpreendeu, mudando o alvo das graçolas.
- E Teresa de Celanova? Nem sabeis...
Colocou um pano à cabeça como se fosse uma
touca e meneou o corpo para imitar a mulher de Egas Moniz. Batendo as pestanas
de forma acelerada, pigarreou:
-
«Conheço o Raimundes há muuuuuuuitos anos!»
A insinuação era óbvia, e Elvira deu uma
risada histérica:
-
Pois conhece, e muito bem!
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