terça-feira, fevereiro 23, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 197




















Na gruta, a mulher estava deitada no seu colchão, coberta por uma manta. O fedayin caiu sobre ela e em poucos instantes amarrou-a com uma corda e obrigou-a a ajoelhar-se.

A mulher parecia confundida como se não acreditasse que tinha sido incapaz de o escutar a aproximar-se.

- Quem sois vós? – perguntou.

A Morte com Duas Pernas deixou cair os trapos que o cobriam e retirou da mochila uma túnica totalmente branca, que vestiu e um cinto encarnado que a apertou.

Agora, era de novo o assassin. A bruxa examinou-o melhor e depois disse:

- Sois a morte que ceifou os doentes em Coimbra, há onze anos, junto ao Mondego, e a morte que degolou os leprosos o ano passado.

Intrigada, perguntou:

 - Porque haveis voltado?

O fedayin nada disse. Então, a mulher acrescentou:

 - As mouras estão na Galiza há mais de um ano. Num primeiro momento, o fedayn ficou surpreendido e até contrariado. Depois encolheu os ombros e murmurou:

 - Posso esperar o tempo que for preciso. Abu Zakaria está preso em Santarém, não vem tão cedo.

A bruxa não mostrou qualquer sinal de espanto, e o fedayn concluiu que ela devia ter amigos em Santarém. Olhou para o canto da caverna, viu uma gaiola com dois corvos e perguntou.

 - Para quem os mandais?

A bruxa desprezou-o:

 - Nunca ireis descobrir:

A Morte com Duas Pernas continuou o interrogatório.

- Porque haveis ajudado as mouras?

Como a mulher vestida de negro se recusou a responder, o fedayn contou o que soubera em Códova, e ela estremeceu num espasmo de pavor. O fedayn riu-se:

- Uma bruxa com medo... quem diria?

Sabia que ela viera para Coimbra há doze anos, aquando do primeiro cerco de Ali Yusuf, atrás das três mouras, sempre a guardá-las, como um anjo vigilante.

Depois, quando elas ficaram prisioneiras dos cristãos, tinha-se instalado naquela gruta, protegendo-as à distância.

- Porquê? – perguntou o fedayn

A mulher permaneceu calada e por isso ele acrescentou:

 - Sei quem elas são, e porque o califa as quer mortas. Fui eu que matei Taxfin no castelo de Hisn. E também a criada dele.

A bruxa mordeu os lábios e parecia ir lançar-lhe uma questão, mas não o fez. O fedayn disse:

 - Sabeis quem elas são.

A bruxa pareceu então ganhar coragem e abanou a cabeça.


Não sei o que vos disseram mas não é verdade. Só as conheci o ano passado quando vieram à minha caverna.

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