(Domingos Amaral)
Episódio Nº 185
O rei não qui s
hostilizar Paio Soares, apenas qui s
submeter meu pai – interpretou minha esposa, Maria Gomes.
O arcebispo enfureceu-se, olhando para o
príncipe:
-
Este ataque é contra vós!
Ao saber que tempos antes, Guimarães
cedera metade da guarnição a Coimbra, Paio Mendes ainda mais se exaltou:
-
Mas por quê? Não há tropas mouras daqui
até Badajoz!
Miguel Salomão, que troca correspondência
semanal com o João Peculiar, disse-nos que não ocorreram mais do que pequenas
escaramuças com os sarracenos!
O príncipe compreendeu, então, a armadilha
em que caíra.
Conhecendo de antemão a invasão de Afonso
VII, a mãe e o Trava tinham-no fragilizado intencionalmente para que o primo o
pudesse subjugar!
Fora traído pela segunda vez. Furioso,
exclamou:
-
Jamais me renderei! Morrerei em Guimarães se for preciso!
Revoltado por o ver assim, perguntei:
-
Quem poderemos chamar? O braganção?
Meu pai abanou a cabeça descrente:
-
Está longe e demora semanas a reunir tropas.
Gonçalo de Sousa, recém -entrado na sala,
adiantou também que não dispunha de mais de cem homens.
Então, lembrei-me de sugerir:
-
Mandemos mensageiros a Baião, a Bastos, a Lafões, a Lanhoso, a Ponte de Lima, a
Lamego!
Meu pai, Egas Moniz, lamentou-se, era
tarde para um toque a rebate, Afonso VII chegaria dentro de horas e cercaria a
cidade.
Vindos de onde viessem, quaisquer reforças
seriam presa fácil.
Ainda irado, Afonso Henriques levantou-se
e proclamou:
-
Pois que nos cerque! Deixem o povo entrar e fechem as portas da muralha!
Desalentado e raivoso, o meu melhor amigo
isolou-se a tarde toda no quarto. Sabia que Guimarães, por mais prosperidade
que houvesse à sua volta, não tinha de momento, capacidade para resistir a um
cerco prolongado, nem guarnição para defender contra três mil leoneses e
castelhanos.
Durante sete dias, as tropas de Afonso VII
cercaram Guimarães. O desejo do rei era claro: queria apenas que Afonso
Henriques lhe prestasse vassalagem.
Se tal acontecesse, levantaria o cerco.
Caso contrário, lançaria as tropas contra a cidade.
Na manhã do sétimo dia, meu pai, Egas
Moniz, entrou na sala seguido por sua esposa, Teresa de Celanova. À roda da
grande mesa, além do príncipe, estavam sentados, Paio Mendes, João Peculiar,
Ermígio Moniz, eu e Gonçalo de Sousa, à frente do qual se via uma caneca de
vinho.
Ao ver aparecer a esposa de meu pai, este
último murmurou:
- E
se mandássemos esta ao primo?
Paio Mendes olhou-o, zangado, mas Teresa
de Celanova pegou na deixa e recordou que conhecia Afonso Raimundes muito bem,
e poderia propor-lhe uma solução pacífica.
Nesse momento, recordo-me de ver grande
desconforto em meu pai e indignei-me:
-
Não podeis ir sozinha, Afonso VII ainda vos rapt a!
Teresa de Celanova garantiu-me que esse
era um perigo inexistente, mas que, evidentemente, seu marido a acompanhava,
acrescentando:
- Podeis vir também, Lourenço Viegas.
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