Não tenho palavras.... |
A Sorte de Nascer
em Portugal...
Em Portugal ou em qualquer outro país onde não sejamos perseguidos, violentados ou mortos.
Olho para as minhas netas e estremeço ao
pensar nas outras crianças, lindas como elas, lindas como todas as crianças,
que são espectáculo na televisão quase todos os dias, enfiadas naqueles barcos
de borracha com coletes salva-vidas falsificados, que ajudam a morrer em vez de
salvar.
... “primeiro as crianças”... e lá vêm elas, erguidas nos braços dos seus
salvadores para outros barcos ou directamente para as praias de uma terra
desconhecida com futuro incerto.
Reparo nos seus rostos, olhares
inexpressivos que já perderam a capacidade de reagirem. Nada revelam, estão por
tudo, é-lhes indiferente... como se estivessem mortas.
Tudo porque um dia, gente irresponsável
e gananciosa, entrou com os seus exércitos por um país, já partido,
religiosamente, em sunitas e xiitas, e ao fim de uns tempos foram embora deixando atrás de si o
caos e a desordem, campo fértil para todas as aventuras políticas, as piores
que se poderiam esperar...
Apanharam os barcos e os aviões e
regressaram às suas terras, noutro continente, muito longe, para tentarem
esquecer, rapidamente, a porcaria que tinham feito e cujas consequências
estamos agora a ser vítimas.
Por que é que um país, de todos o mais
poderoso, que recebeu o contributo valioso de pessoas de todo o mundo, que se
seleccionaram a si próprias, para nele viverem e trabalharem, foi fazer a
guerra no Iraque, com falsas justificações, para que meia dúzia de senhores aumentassem ainda mais as suas contas bancárias pelo recurso a conflitos bélicos sem os
quais a indústria de armamentos não produziria tantos lucros?
Esses senhores também têm netos e eu
gostaria de saber se as imagens daquelas crianças, que correm mundo através dos
ecrãs da televisão, não lhes pesam na consciência...
Eles têm netos, claro que têm netos, o que lhes falta é
imaginação... dentro dos seus corações batem cifrões a mais e sentimentos a
menos... as suas vistas não ultrapassam os limites dos seus jardins, o resto do
mundo, para eles, é como se não existisse.
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