terça-feira, março 15, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 213


















As outras ignoraram-na, Zaida estava já de mão dada com a galega, fazendo-lhe festas quando Zulmira perguntou:

 - Pensais que vosso marido vos emprenhou?

Chamoa sabia que aqueles eram dias próprios à procriação.

Filhou-me três vezes. Parecia um touro, cheio de força!

Zaida e Zulmira riram-se, e esta última questionou-a:

 - Mas quem desejais que vença a batalha?

Chamoa suspirou:

 - Desde que nenhum dos meus homens morra...

Enquanto apanhava os longos cabelos cor de mel de Chamoa, e fazia com eles uma trança, Zaida interrogou-a:

 - Ainda amais Afonso Henriques?

A rapariga galega confirmou-o, porém logo adiantou que não gostava que os seus meninos ficassem órfãos de pai.

Se Afonso Henriques ganhasse ela deixaria Paio Soares, mas queria que este ficasse vivo, educando os dois filhos já nascidos.

No seu esconderijo, minha prima Raimunda aterrou-se. Pela primeira vez ouvira a rival galega dizer que se iria juntar ao príncipe.

Portanto, ou Afonso Henriques perdia o combate, o que era desastroso para os portucalenses, ou o venceria e ganhava como prémio o amor de Chamoa com o seu amado príncipe!

Entretanto, uma mulher alta e loura, aproximou-se da tenda de Paio Soares, com duas crianças ao colo, uma de cada lado. Era Elvira, a serviçal da estalagem de Viseu, descendente de normandos.

São as filhas de Dona Teresa? – perguntou Zulmira.

Elvira pousou no chão a mais velha, Sanchinha, já com ano e meio enquanto tapava a cara da mais nova, Teresa, recém-nascida, para a proteger do sol forte que já se fazia sentir.

Têm a idade dos meus – sorriu Chamoa – Tenho saudades deles...

Zaida, pegando ao colo em Sanchinha, perguntou à normanda:

- Sois serva de Dona Teresa? Deve ter muita confiança em vós, para vos dar as filhas para a mão!

Elvira contou que conhecera Dona Teresa em Viseu e a partir daí não mais deixara as crianças, o que muito ajudava a rainha.

Fátima que entretanto regressou, rosnou:

 - É a desculpa de sempre, faz os filhos e depois não tem tempo para eles!

Se olhasse mais para Afonso Henriques não estávamos aqui!

Elvira olhou-a surpreendida.

Achais que o príncipe odeia a mãe? Pareceu-me boa pessoa quando o conheci em Viseu, há dois anos, na Páscoa que por lá passou.

Chamoa quis logo saber como foi aquele encontro que ela desconhecia, apesar de também ter estado em Viseu, e Elvira explicou que o príncipe foi beber à taverna onde ela laborava.

É gentil, além de bonito!

Enciumada com tais palavras, odiando já a normanda, Chamoa ordenou às mouras que a seguissem para dentro da tenda, para a ajudarem a lavar-se.


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