terça-feira, março 29, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 225






















Surpreendido Afonso VII bufou:

 - Querem que os enforque aos cinco? E que ganho eu com isso?

Meu pai mandou-me ajoelhar, baixando a cabeça em sinal de total submissão à vontade real e afirmou:

 . As nossas vidas estão nas vossas mãos. Que a nossa morte apague a justificada ira contra o Condado de Portucalense.

O rei deu um murro no braço do deu trono.

Foi meu primo que vos ordenou esta patética exixibição?

Meu pai negou-o, dizendo que Afonso Henriques sabia apenas que viéramos a Toledo.

O rei continuou enfurecido e perguntou:

- Para que quero as vossas vassalagens ou as vossas cabeças?

Um pesado silêncio caiu sobre a sala, pois ninguém ousou interromper a fúria de Afonso VII.

Mas, de repente, ele pareceu mudar de expressão, e no seu rosto nasceu uma ponta de curiosidade:

 - É verdade que meu primo lançou a mãe nas masmorras?

Meu pai confirmou aquela lamentável situação.

-É pior do que eu... – murmurou o rei.

Pediu então que meu pai lhe narrasse a batalha de São Mamede.

Quando soube da retirada inicial de Afonso Henriques, que só voltara à peleja a pedido dos nobres, comentou:

 - Afinal, meu primo, é um cagarolas!

A afirmação provocou uma gargalhada geral na corte, o que o deixou satisfeito, pois soltar o riso dos súbitos, confortava-o. Entusiasmado, exclamou:

 - Se me lanço para Guimarães outra vez, mija-se pelas pernas abaixo!

Quando a nova onda de risotas acalmou, meu pai descreveu o que se passara com os Trava, tendo o rei perguntado:

 - Meu primo julga então que venceu a guerra.

Meu pai limitou-se a referir as antigas pretensões do conde Henrique, que Dona Teresa repetira em Ricobayo, e que se mantinham intactas.

- Balelas! Exclamou o rei outra vez enervado.

Negou qualquer pacto antigo, referiu em voz grossa que era ele o rei da Galiza e não cederia esse reino a ninguém, muito menos a um primo mal -  educado, que se recusava a cumprir as suas obrigações.

Furibundo, levantou-se do trono e gritou:

- Quem julga Afonso Henriques que é? Poupei-o uma vez por vosso pedido, mas não o pouparei segunda vez! Deixai-me vencer Afonso de Aragão em definitivo, e vereis o que lhe faço e a todos os recalcitrantes nobres que se recusem a cá vir!

Teresa de Celanova, sabendo que entre os referidos estava o seu pai, soltou um gemido. Esta sua demonstração de fragilidade deve ter comovido o rei, que lhe perguntou:

- Que tendes, bela Teresa?

Agastado com aquele elogiu tão explícito, meu pai antecipou-se:

 - Minha esposa teme pela vida de seu pai.

O rei enervou-se, continuando a olhar para Teresa:

- Porque não a deixais falar?

Reparei que meu pai ficou mais tenso, mas que Teresa de Celanova sorriu.

Meu rei em nome dos tempos em que fomos jovens juntos, ouvi-me. Os Trava sempre prejudicaram Celanova, e só Afonso Henriques nos defendeu. Por isso, meu pai, lhe devota tanta lealdade.

Vós sois rei da Galiza mas estais longe e nós precisamos de ajuda.

O rei olhou-a, admirado.

É bem verdade o que dizeis, bela Teresa, mas tenho tido muito com que me ocupar no Leste da Hispânia.

Sorrindo para a mulher de meu pai, acrescentou:

- É bom ouvir a vossa voz, bela Teresa, tenho saudades dos tempos em que folgá... passámos juntos!

Ouviram-se alguns risos abafados. Meu pai estava agora muito pálido, , quase da cor da túnica que vestia, mas não podia criticara a esposa, pois mais uma vez a sua intervenção alterara a disposição real.

Sorrindo a esta última, o monarca afirmou:

- Estais dispensada dessa corda minha querida amiga. Depois sem olhar para meu pai ou para nós, declarou:

- Os outros também. Podeis regressar ao vosso condado em paz. Meu primo Afonso que goze bem a sua regência, que um dia tratarei dele. E quanto aos senhores de Toronho, Límia ou Zamora, talvez os enforque do alto das torres dos seus castelos, quando por lá passar!

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