(Domingos Amaral)
Episódio Nº 225
Surpreendido Afonso VII
bufou:
- Querem que os enforque aos cinco? E que
ganho eu com isso?
Meu pai mandou-me ajoelhar,
baixando a cabeça em sinal de total submissão à vontade real e afirmou:
. As nossas vidas estão nas vossas mãos. Que a
nossa morte apague a justificada ira contra o Condado de Portucalense.
O rei deu um murro no braço
do deu trono.
Foi meu primo que vos
ordenou esta patética exixibição?
Meu pai negou-o, dizendo que
Afonso Henriques sabia apenas que viéramos a Toledo.
O rei continuou enfurecido e
perguntou:
- Para que quero as vossas
vassalagens ou as vossas cabeças?
Um pesado silêncio caiu
sobre a sala, pois ninguém ousou interromper a fúria de Afonso VII.
Mas, de repente, ele pareceu
mudar de expressão, e no seu rosto nasceu uma ponta de curiosidade:
- É verdade que meu primo lançou a mãe nas
masmorras?
Meu pai confirmou aquela
lamentável situação.
-É pior do que eu... –
murmurou o rei.
Pediu então que meu pai lhe
narrasse a batalha de São Mamede.
Quando soube da retirada
inicial de Afonso Henriques, que só voltara à peleja a pedido dos nobres,
comentou:
- Afinal, meu primo, é um cagarolas!
A afirmação provocou uma
gargalhada geral na corte, o que o deixou satisfeito, pois soltar o riso dos súbitos,
confortava-o. Entusiasmado, exclamou:
- Se me lanço para Guimarães outra vez,
mija-se pelas pernas abaixo!
Quando a nova onda de
risotas acalmou, meu pai descreveu o que se passara com os Trava, tendo o rei
perguntado:
- Meu primo julga então que venceu a guerra.
Meu pai limitou-se a referir
as antigas pretensões do conde Henrique, que Dona Teresa repetira em Ricobayo,
e que se mantinham intactas.
- Balelas! Exclamou o rei
outra vez enervado.
Negou qualquer pacto antigo,
referiu em voz grossa que era ele o rei da Galiza e não cederia esse reino a
ninguém, muito menos a um primo mal - educado, que se recusava a cumprir as suas
obrigações.
Furibundo, levantou-se do
trono e gritou:
- Quem julga Afonso
Henriques que é? Poupei-o uma vez por vosso pedido, mas não o pouparei segunda
vez! Deixai-me vencer Afonso de Aragão em definitivo, e vereis o que lhe faço e
a todos os recalcitrantes nobres que se recusem a cá vir!
Teresa de Celanova, sabendo
que entre os referidos estava o seu pai, soltou um gemido. Esta sua demonstração
de fragilidade deve ter comovido o rei, que lhe perguntou:
- Que tendes, bela Teresa?
Agastado com aquele elogiu
tão explícito, meu pai antecipou-se:
- Minha esposa teme pela vida de seu pai.
O rei enervou-se,
continuando a olhar para Teresa:
- Porque não a deixais
falar?
Reparei que meu pai ficou
mais tenso, mas que Teresa de Celanova sorriu.
Meu rei em nome dos tempos
em que fomos jovens juntos, ouvi-me. Os Trava sempre prejudicaram Celanova, e só
Afonso Henriques nos defendeu. Por isso, meu pai, lhe devota tanta lealdade.
Vós sois rei da Galiza mas
estais longe e nós precisamos de ajuda.
O rei olhou-a, admirado.
É bem verdade o que dizeis,
bela Teresa, mas tenho tido muito com que me ocupar no Leste da Hispânia.
Sorrindo para a mulher de
meu pai, acrescentou:
- É bom ouvir a vossa voz,
bela Teresa, tenho saudades dos tempos em que folgá... passámos juntos!
Ouviram-se alguns risos
abafados. Meu pai estava agora muito pálido, , quase da cor da túnica que
vestia, mas não podia criticara a esposa, pois mais uma vez a sua intervenção
alterara a disposição real.
Sorrindo a esta última, o
monarca afirmou:
- Estais dispensada dessa
corda minha querida amiga. Depois sem olhar para meu pai ou para nós, declarou:
- Os outros também. Podeis
regressar ao vosso condado em
paz. Meu primo Afonso que goze bem a sua regência, que um dia
tratarei dele. E quanto aos senhores de Toronho, Límia ou Zamora, talvez os
enforque do alto das torres dos seus castelos, quando por lá passar!
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