Nas ditaduras os pratos estão desequilibrados |
O Ridículo
de uma
de uma
sentença?
Um Tribunal angolano condenou a penas de prisão de entre dois a oito anos, dezassete angolanos, um deles com dupla nacionalidade, angolana e portuguesa, por «actos preparatórios de rebelião e associação de mal-feitores».
Local do crime: uma papelaria.
Arma do crime: um livro.
Actividade criminosa: debate sobre o livro de seu título
«Ferramentas para Destituir o Ditador e evitar nova Ditadura» baseado no
clássico de Gene Sharp «Da Ditadura à Democracia».
Nada foi encontrado de perigoso ou ameaçador, armas ou planos para
derrubar o governo por meios violentos.
O Tribunal que decretou esta sentença partiu do princípio que
aquelas pessoas que promoveram entre si o debate sobre aquele assunto não eram
favoráveis ao governo de José Eduardo dos Santos e isso constitui um crime
punível com prisão.
Não esqueçamos que os juízes daquele Tribunal fazem parte de um
regime político ditatorial e sentiram-se na obrigação de defender o tipo de
Estado em que, acima de qualquer lei, está a defesa do ditador.
Nós, em Portugal, temos muitas pessoas da minha idade, que sabem
perfeitamente como foi vivida essa situação, em que acima de qualquer lei
estava a segurança e estabilidade do ditador Salazar.
Tínhamos até mesmo uma Polícia só dedicada a perseguir e prender
os cidadãos que, por exemplo, se reunissem numa livraria para debater um livro
com um título daquele teor.
Aquela sentença só prova o que toda a gente sabia: José Eduardo
dos Santos é um ditador de “falinhas mansas”, como todos os ditadores, à frente
de uma ditadura “justificável” porque venceu uma guerra civil.
Simplesmente, a guerra terminou há já doze anos, a sociedade está
completamente pacificada e o inimigo de José Eduardo dos Santos chama-se, agora, Democracia que ameaça suceder à sua ditadura.
O seu principal objectivo é perpetuar-se no poder, ele e o seu séquito: familiares, amigos, alguns generais vencedores da guerra civil. E o Tribunal interpretou correctamente esse principal desígnio da ditadura
vigente que, como em qualquer outra ditadura, pretende, em primeiro lugar,
perpetuar-se.
Os réus, agora condenados, estavam a discutir entre si a evolução
da sociedade angolana na sua transição para uma democracia e isso não podia
deixar de ser considerado um crime.
A sentença do Tribunal só pode ser considerada ridícula à luz da
Democracia mas faz todo o sentido no contexto de uma Ditadura.
Discuti-la, discordar dela, é afrontar José Eduardo dos Santos, um
dos mais antigos ditadores africanos.
Tudo o resto que se diga é “conversa fiada” para o Ministério dos
Negócios Estrangeiros ouvir...
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