segunda-feira, abril 18, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 243




















Era assim na grande Córdova e assim foi durante mais de trezentos anos, e voltará a ser se o desejarmos!

Podemos fazer renascer Códova, mas para isso temos de nos aliar a um rei poderoso, para lutar contra o califa!

Para sua surpresa a belicosa irmã concordou pela primeira vez.

- Tendes razão, querida Zaida. Temos de aliar-nos a um rei para lutar contra o califa de Marraquexe e ressuscitar Córdova. Só nós o podemos fazer.

Zaida olhou-a com expectativa. Porém, Fátima acrescentou:

- Mas esse rei jamais poderá ser cristão!

- Zaida rebelou-se e perguntou:

 - Porquê? – Sancho, meio-irmão da nossa mãe e nosso tio, era filho da avó Zaida e de Afonso VI! E também era do tio de Afonso Henriques, e meio-irmão de Dona Teresa!

Foi a vez de Fátima olhar para o corpo de Zulmira e dizer.

 - A nossa mãe ia sendo morta em Toledo. Os cristãos queriam que ela matasse o Sancho, recordai-vos? Por isso teve de fugir.

Furiosa, acrescentou:

 - Não é possível unir o que Deus e Ala desunem. Nunca será!

Zaida ficou desapontada, em silêncio, enquanto Fátima murmurava.

 - Se desejais filhar cristãos filhai-os à vontade. Se desejares dormir com a Chamoa, dormi à vontade. Fornicai com todos e com todas se o desejardes. Mas não o façais para unir as duas religiões pois isso nunca irá acontecer!

A guerra é total e sempre será. Haveis escutado o discurso de Ramiro, hoje de manhã? – Eles pensam o mesmo.

O califado contra os cristãos, sejam eles quem forem; e os cristãos contra o califado seja ele de Córdova, de Marraquexe, ou de Bagdad!

É assim há séculos, e daqui a mil anos continuará a ser!

Nesse momento, Afonso Henriques, Gonçalo, Ramiro, Mem e eu entrámos na cripta. Zaida sorriu-nos, mas Fátima cerrou o rosto, virando-nos a cara.

O príncipe apresentou-lhes as condolências pela morte da mãe e depois sentou-se no banco ao lado de Zaida. Sorrindo-lhe, o que enervou Mem e Gonçalo perguntou-lhe quem era a mãe dela e porque o califa Yusuf as desejava ver mortas.

Talvez por estar ao lado da irmã Aida sentiu-se desconfortável, e nada esclareceu. O príncipe pediu então a Mem que contasse o que sabia.

Durante a hora seguinte o almocreve recordou o que ouvira a Zulmira sobre a sua vida em Sevilha, Córdova, Toledo, Lisboa e de novo em Córdova, até chegar aos cercos de Coimbra.

Depois, acrescentou o que sabia sobre Abu Zhakaria, a bruxa das cavernas e o assassin.

No final daquela narrativa, Afonso Henriques comentou:

 - Continuamos a ignorar por que o califa vos quer matar.

O príncipe mirou fortemente Zaida, e ela parecia querer falar, mas Fátima fuzilou-a com o olhar, Mem recordou o que a bruxa dissera, que elas eram de sangue real, e Afonso Henriques exclamou:

- Ramiro, tendes mesmo de encontrar essa mulher!

Depois o príncipe levantou-se e declarou:

 - Com Abu Zakaria por perto não vos posso deixar levar a vossa mãe para Córdova. Ficarão as duas em Coimbra!

De seguida olhou para Gonçalo de forma crítica. Mas é melhor ser o Peres Cativo a tomar conta delas...

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