domingo, maio 29, 2016

A minha cidade de Santarém
Hoje é Domingo
(Na minha cidade de Santarém em 29/5/16


















O Meu Jornal  

A minha relação com o meu jornal de todos os dias quando, de manhã, à mesa do café, o abro à minha frente e começo a passar os olhos pelas notícias aguardando o café com a torrada, é uma relação de fidelidade.

Abro-o e folhei-o com o à vontade e desprendimento próprios de quem se conhece há muitos anos, procurando, numa primeira vista de olhos, alguns pormenores, quero dizer notícias, que mais despertam a minha curiosidade,

Tive mais a consciência desse sentimento de fidelidade quando, ante – ontem de manhã, na papelaria, pus em cima do balcão, para pagar, outro jornal que não o meu, e que trouxe por estar, exactamente ao lado.

Com descrição e algum pudor, próprios de quem manuseia o que não lhe pertence, fui pô-lo no seu lugar com um mudo pedido de desculpas, como se estivesse a devolver ao vizinho a mulher trazida por engano, com a desculpa de que estava mesmo ali, na vizinhança da minha casa.

- “Desculpe, vizinho, bem vê que foi sem querer ... ainda se estivesse na prateleira de cima mas estava, exactamente, mesmo ao lado...”

A relação com o meu jornal é uma relação de intimidade. Ler outro que não o meu é como invadir a casa do vizinho, além de lhe roubar a mulher, nem saberia em que gavetas deveria procurar as coisas que preciso...

Conheço as folhas do meu jornal e não gosto de todas, mas é impossível gostar de tudo só porque é nosso, como acontece com a nossa mulher e, no entanto, não vamos por causa disso trocá-la por outra.

Apesar de tudo, sei com o que conto, e se voltar a enganar-me a tirar da prateleira outro jornal que não o meu, lá terei que o repor no seu lugar com a descrição e o pudor próprios de quem devolve ao vizinho do lado, a mulher que trouxe por engano...

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