A Vitória do Imperador
A Profecia da Normanda
Episódio Nº 2
Em Guimarães, a minha mulher, Maria Gomes, irmã de Chamoa, foi a única a desconfiar daquele fogoso arrebatamento.
Logo no dia em que a mana
regressou do mosteiro, agradei-me por haver, finalmente, harmonia entre aqueles
dois, mas Maria comentou:
- Lourenço Viegas, com a Chamoa nunca se sabe!
Deus e o Diabo dançam-lhe na alma, de braço dado.
Encolhi os ombros ao meu
agoiro e secretamente julguei que minha mulher invejava a irmã, que fora a mais
bonita.
Desde a infância que Chamoa
sonhava ser princesa, ou mesmo rainha, e admiti que Maria não lidava bem com a
possibilidade de esse desejo, finalmente, se concretizar.
Era a única relutante, pois
tal como eu, também meu pai Egas Moniz, e meu tio, Ermígio Moniz, apostavam que
aquela união, depois de tanta desavença, seria agora sólida e inquebrantável.
O nosso desejo comum, embora
genuíno, não era inocente, nem desalinhado com o interesse geral, pois aquele
namoro era proveitoso para os portucalenses.
Chamoa era filha de Gomes
Nunes, senhor de Toronho, unindo-se à minha cunhada, o príncipe de Portugal,
passava a dominar as terras de Tui, permitindo que o Condado Portucalense
crescesse a Norte do Rio Minho.
Além disso, o facto de
Chamoa ser uma Trava, pois era também filha de Elvira Peres de Trava e sobrinha
de Fernão Peres, poderia no futuro possibilitar a paz entre Afonso Henriques e
aquela poderosa família galega.
Casado com Chamoa, o
príncipe uniria o Condado Portucalense à Baixa Galiza, concretizando o velho
sonho de seu pai, o conde Henrique: um reino a Norte e a Sul do rio Minho.
Durante aqueles sete e
bonitos e solarengos dias de Outono, em Guimarães o ambiente geral era, pois,
de alegria e esperança.
O meu melhor amigo e Chamoa
permaneciam horas fechados no quarto e só se juntavam a nós a meio do dia, num
repasto à volta da mesa, apreciando as apetitosas comidas que a bela Teresa de
Celanova, segunda esposa de meu 0pai, confeccionava nas cozinhas do castelo.
Foram as viandas e as
tigeladas de leite as primeiras culpadas dos vómitos de Chamoa naquela manhã. A
minha Maria foi de súbito chamada ao quarto, pois a irmã começava a despejar o estômago,
de certo enfastiada com os excessos da véspera.
Notei um ligeiro franzir de
testa de minha esposa, mas, contagiado pela boa disposição que reinava naquela
alcáçova há sete dias, não me preocupei, nem quando Maria regressou do quarto
do príncipe e ordenou a uma das criadas que fosse depressa chamar o curandeiro.
Meu pai, sentado ao lado de
Afonso Henriques, resmungou:
- A Teresa junta ovos a
mais...
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home