segunda-feira, maio 09, 2016

Assim Nasceu

Portugal


A Vitória do Imperador


A Profecia da Normanda



Episódio Nº 2
















Em Guimarães, a minha mulher, Maria Gomes, irmã de Chamoa, foi a única a desconfiar daquele fogoso arrebatamento.

Logo no dia em que a mana regressou do mosteiro, agradei-me por haver, finalmente, harmonia entre aqueles dois, mas Maria comentou:

 - Lourenço Viegas, com a Chamoa nunca se sabe! Deus e o Diabo dançam-lhe na alma, de braço dado.

Encolhi os ombros ao meu agoiro e secretamente julguei que minha mulher invejava a irmã, que fora a mais bonita.

Desde a infância que Chamoa sonhava ser princesa, ou mesmo rainha, e admiti que Maria não lidava bem com a possibilidade de esse desejo, finalmente, se concretizar.

Era a única relutante, pois tal como eu, também meu pai Egas Moniz, e meu tio, Ermígio Moniz, apostavam que aquela união, depois de tanta desavença, seria agora sólida e inquebrantável.

O nosso desejo comum, embora genuíno, não era inocente, nem desalinhado com o interesse geral, pois aquele namoro era proveitoso para os portucalenses.

Chamoa era filha de Gomes Nunes, senhor de Toronho, unindo-se à minha cunhada, o príncipe de Portugal, passava a dominar as terras de Tui, permitindo que o Condado Portucalense crescesse a Norte do Rio Minho.

Além disso, o facto de Chamoa ser uma Trava, pois era também filha de Elvira Peres de Trava e sobrinha de Fernão Peres, poderia no futuro possibilitar a paz entre Afonso Henriques e aquela poderosa família galega.

Casado com Chamoa, o príncipe uniria o Condado Portucalense à Baixa Galiza, concretizando o velho sonho de seu pai, o conde Henrique: um reino a Norte e a Sul do rio Minho.

Durante aqueles sete e bonitos e solarengos dias de Outono, em Guimarães o ambiente geral era, pois, de alegria e esperança.

O meu melhor amigo e Chamoa permaneciam horas fechados no quarto e só se juntavam a nós a meio do dia, num repasto à volta da mesa, apreciando as apetitosas comidas que a bela Teresa de Celanova, segunda esposa de meu 0pai, confeccionava nas cozinhas do castelo.

Foram as viandas e as tigeladas de leite as primeiras culpadas dos vómitos de Chamoa naquela manhã. A minha Maria foi de súbito chamada ao quarto, pois a irmã começava a despejar o estômago, de certo enfastiada com os excessos da véspera.

Notei um ligeiro franzir de testa de minha esposa, mas, contagiado pela boa disposição que reinava naquela alcáçova há sete dias, não me preocupei, nem quando Maria regressou do quarto do príncipe e ordenou a uma das criadas que fosse depressa  chamar o curandeiro.

Meu pai, sentado ao lado de Afonso Henriques, resmungou:

- A Teresa junta ovos a mais...

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