A Vitória do Imperador
A Profecia da Normanda
Episódio Nº 5
Um arrepiu gelado percorreu-me a espinha. Havia
quem anulasse os filhos ainda por nascer, mas a ideia horrorizava-me e o meu
melhor amigo também não a aprovou, pois declarou sem sequer encarar Chamoa.
-
Jamais aceitaria o sacrifício de uma criança para ter o vosso amor, mulher
desmiolada. Ide-vos embora e depressa!
Nessa tarde, uma chorosa Chamoa abandonou Guimarães
na companhia de sua irmã e eu fui com elas levá-la a Tui, onde viviam os pais
de ambas e os três pequenos filhos da cunhada.
Aquele vibrante e intenso amor durara uma
curta semana e agora o relacionamento entre o príncipe e Chamoa regressava ao
estado de trepidação e desequi líbrio
que sempre o caracterizara.
Desiludido e magoado o meu grande amigo
Afonso Henriques, recomeçou a dizer que desprezava as mulheres, o que levou a
mulher de meu pai, Teresa de Celanova, a resmungar um dia:
- Por causa de uma pagamos todas!
Guimarães, Dezembro de 1130
Quando eu e Maria regressamos de Tui, onde
havíamos deixado Chamoa, o príncipe de Portugal permanecia macambúzio. Fechava-se
longas horas no quarto sem falar com ninguém e dava lentos e solitários
passeios à roda de alcáçova, olhando o horizonte com desalento, como se a sua
salvação estivesse numa qualquer nuvem, que, porém se afastava no céu, levada
pelo vento da injustiça.
Teresa de Celanova bem o tentava animar
com os seus repastos. Mandava vir marisco do Porto ou pescado de Vila do Conde,
assava carnes sumpt uosas, caçadas
nas serranias do Marão, mas nada minorava as dores amargas de Afonso Henriques,
nem sequer a presença do folgazão
Gonçalo de Sousa, nosso habitual companheiro de patuscadas.
Quando o entristecido príncipe se dignava
a falar, o alvo dos seus desanimados queixumes eram as mulheres. Naquela tarde,
enquanto trinchávamos um saboroso javali à roda da mesa, saiu-se com esta:
- Também minha mãe me desprezou. Mesmo no
dia da sua morte recusou dar-me a mão!
Passada essa funda revolta com a
maternidade desleixada de Dona Teresa, virou-se contra Deus, que supostamente
lhe amaldiçoava os enamoramentos.
A somar às peripécias com Chamoa, a minha
prima Raimunda, que fora o seu primeiro amor, atirara-se de uma ponte, mas ele
nunca se considerara culpado do desgosto da rapariga.
Para o meu melhor amigo, mulher que o
amasse uma vez, tinha de o fazer a vida toda, mesmo que não fosse amada de
volta.
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