A Vitória do Imperador
A Profecia da Normanda
Episódio Nº 14
Tinha ido com o prior Teotónio e a viagem tinha sido inesquecível embora ensombrada pelo desgosto sentido ao verificarem que em Roma acontecera um novo cisma.
- Anacleto, apoiado pelos
arcebispos romanos, não aceita Inocêncio II como Papa e parece que vosso primo
Afonso VII e os leoneses dão suporte às suas maliciosas intenções – relatou o
arcebispo Telo.
As complexas divisões da
cidade papal devem ter parecido ao príncipe de Portugal distantes e maçadoras,
pois o seu olhar manteve-se pousado na garbosa sela ornamentada de Telo.
- Como a poderia ter? –
perguntou.
O proprietário da dita tinha
fama de homem despojado, mas surpreendeu-nos quando revelou uma faceta de hábil
negociador.
- Trocava esta sela sem
hesitar por uns terrenos junto aos Banhos Régios, fora da muralha.
O arcediago Telo apontou
para o local em causa, mais frequentados por mouros ou moçárabes que tinham
hábitos de lavagem e higiene bem mais apurados que os cristãos.
- Agora os religiosos também
vão a banhos? – interrogou-se Gonçalo de Sousa, sempre jocoso.
Com um leve sorriso, Telo
explicou-nos que desejavam construir no local um mosteiro chamado de Santa
Cruz, onde viveriam os novos monges da vida apostólica, não fora, mas dentro da
cidade, não fechados em clausura mas presente no mundo.
A original ideia agradou ao
meu amigo, que ainda mais contente ficou quando soube que Teotónio, antigo
prior de Viseu, aceitara cargo idêntico no futuro. Afonso Henriques admirava
muito aquele homem que considerava um santo e um protector.
Contudo, demonstrando que o
talento comercial também lhe corria nas veias, o príncipe hesitava em conceder
tantos terrenos em troca de uma única sela, o que levou meu tio Ermígio a
incentivá-lo a realizar a doação, colocando-a por escrito em documento nobre,
como um gesto de regência e não como mero negócio particular.
- Assim farei – concedeu por
fim, Afonso Henriques.
O que ninguém esperava era
que a generosa dádiva gerasse tanta polémica. Nos dias seguintes, quando se
tornou pública a oferta da propriedade, o bispo de Coimbra revelou profundo
desagrado com a instalação de um mosteiro daqueles na sua cidade.
Alegou o bispo Bernardo ser
ele quem deveria autorizar a instalação de religiosos na região. Oferecer uma
propriedade e aprovar um mosteiro geridos pelo presbítero Telo e pelo prior
Teotónio sem sequer o consultar, era afrontar a sua posição!
Numa reunião acalorada na
Sé, apresentou argumentos requi ntados
para esconder as suas verdadeiras motivações: o ciúme que lhe provocavam Telo e
os seus monges de Coimbra, aliado à incomodidade por ter sido totalmente
ignorado pelo príncipe de Portugal.
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