A Vitória do Imperador
Episódio Nº 16
Coimbra. Páscoa de 1131
Mal nos afastámos da Sé,
fomos surpreendidos pela aparição inesperada da princesa Zaida, que saía do
edifício pela porta lateral da biblioteca.
Era conhecido o gosto da
rapariga pelas leituras e no antes, sua mãe Zulmira, chegara a temer que tanto
entusiasmo pelos Testamentos fosse uma predisposição por uma futura mudança de
religião.
Nada mais longe da verdade:
Zaida não tencionava converter-se a Cristo, era uma curiosidade infinita pelas
histórias de um passado que o Islão e a Cristandade partilhavam.
Ao vê-la surgir, Gonçalo
exclamou, animado.
- Zaida, minha amada, finalmente encontro-vos!
É hoje que casamos?
A rapariga desatou a rir e
todos nos congratulámos secretamente por vê-la de novo alegre.
Já haviam passado quase dois
anos sobre a tenebrosa morte de sua mãe, Zulmira, mas durante muito tempo ninguém
vira aquela bonita moura sorrir.
Roliça e vivaça era dotada
de uns olhos negros brilhantes que faziam estremecer o coração de qualquer
homem, e deslocava-se sempre num passo dançarino e saltitante que conferia
beleza a um corpo bem desenhado e redondo.
Simpática, afável e
carinhosa, era uma menina dada a todos, homens e mulheres, mas sabíamos que
nunca fora usada por ninguém, guardando-se como se fosse um tesouro valioso.
- E levais-me para Córdova? – ripostou ela.
A pergunta da rapariga
trazia um luminoso sorriso associado, mas ao ver Afonso Henriques o seu riso
diminuiu de intensidade e com a clareza com que sempre revelava as suas
opiniões, Zaida declarou:
- Chamoa não merecia ser
escorraçada! Errou, mas ama-vos!
As duas eram muito amigas há
vários anos e a moura não esquecia as suas lealdades. Só que o príncipe não
gostou que lhe recordassem o que pretendia esquecer e resmungou irritado:
- Se desejardes, ide até Tui deitar-vos na
cama com ela! E se lá encontrares o Mem Tougues, enviai-lhe os meus
cumprimentos!
A antiga insinuação de que
Zaida e Chamoa dormiam juntas e se banhavam juntas no rio pairou sobre nós, mas
Gonçalo defendeu-a:
- A Zaida vai para Tui? Só por cima do meu cadáver!
Os olhos da moura brilharam
o que teve o condão de enervar mais o príncipe, que logo esporeou o cavalo,
afastando-se a trote, enquanto Zaida ouvia a voz de sua mãe:
- Filha,
não o zangueis...
Na companhia de meu tio,
segui o meu melhor amigo, mas reparei que Gonçalo permanecia junto à princesa de
Córdova. Pelo canto do olho vi-o desmontar, mas o que se passou de seguida só o
soube tempos mais tarde, quando Zaida mo relatou.
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